01 dezembro, 2007

Roubando palavras

Confrontar diretamente os direitos individuais, a idéia que a vida, o próprio trabalho e as escolhas de cada um não dependem da permissão dos outros, é uma tarefa ingrata.

Como visto em “Quem tem medo de fantasma”, a esquerda foge deste debate, tentando fazer com que as pessoas não prestem atenção nos princípios por trás das suas teses. Amedrontar as pessoas ou confundi-las com complexas discussões de particularidades é a primeira grande tática esquerdista.

A segunda é desvirtuar completamente o debate, e isto se faz basicamente usando as palavras para confundir, em vez de esclarecer.

É impressionante como quase todos os conceitos políticos já foram deturpados de alguma forma. Para ilustrar, seguem alguns exemplos:

O que é sociedade?
Sociedade é um conceito complexo. Quando se diz “sociedade”, se está falando de um conjunto de indivíduos e da maneira como estes se relacionam. Sociedade é um conceito útil quando se quer estudar os efeitos acumulados das ações de muitas pessoas.

O esquerdista deturpa o conceito de “sociedade” personalizando-a. Sociedade não é mais um conjunto de indivíduos independentes que se relacionam de uma certa forma – no discurso esquerdista a sociedade passa a ser uma entidade com existência, ação e vontade própria!

É claro que “a sociedade” é incapaz de agir e é incapaz de tomar decisões. “A sociedade” nem existe, à parte dos indivíduos que a compõe. Mesmo quando todas as pessoas envolvidas concordam com algo, não há uma “escolha da sociedade” – e sim um monte de escolhas individuais.

A conseqüência desta deturpação é que o indivíduo deixa de ser reconhecido como tal – e passa a ser apenas uma célula neste vasto organismo. A vontade do indivíduo é submetida à “vontade da sociedade”. A vida e a propriedade do indivíduo submetidas ao “bem da sociedade”.

O que é liberdade?
Liberdade é não estar sob ameaça de outras pessoas. Se só existisse uma pessoa em todo o mundo, ela seria completamente e absolutamente livre. O ideal Capitalista é que se possa ter esta mesma liberdade vivendo em sociedade, e os direitos individuais são o meio de fazê-lo.

O esquerdista deturpa o conceito de liberdade personalizando a natureza. Se alguém não tem o que comer, sua vida está ameaçada. No discurso esquerdista, isto significa que ele não é livre. Quem nunca ouviu “é impossível ser livre passando fome” ou algo parecido (“sem educação”, “sem onde morar”, etc.)?

É claro que a natureza não é “alguém”. A pessoa que não tem o que comer não está sendo ameaçada, embora sua vida esteja em risco. A não ser que se tenha tirado dela o resultado de seu trabalho ou que ela tenha sido impedida de trabalhar, ou seja, que ela seja vítima de uma violação de seus direitos, sua fome não é culpa de nenhuma pessoa.

A conseqüência desta deturpação é que para consertar o “crime” cometido pela natureza – o fato que precisamos trabalhar para produzir os materiais que sustentam nossa vida – o esquerdista pratica um crime de fato: tomar à força o que é de quem produziu, para dar a quem “precisa”.

O que é justiça?
Justiça é agir para com outras pessoas de maneira consistente com as conseqüências dos atos destas pessoas. Se uma pessoa produz algo, justo é respeitar seu direito àquela propriedade. Ao fazer isto, reconhecemos que a existência daquele produto é conseqüência da ação daquela pessoa.

Se uma pessoa comete um crime (viola a vida, propriedade ou liberdade de outro), justo é tratá-la como um predador – ou parasita. Ao violar o direito de outro ela escolhe viver desta forma, e não como ser racional.

O esquerdista deturpa o conceito de justiça substituindo-o pela simples igualdade. Todos os homens têm a mesma natureza, são dotados da faculdade da razão e da capacidade de escolher. O esquerdista pretende tratar todos como se fossem realmente iguais.

É claro que embora tenhamos todos a mesma natureza, não tomamos todos as mesmas decisões, nem agimos da mesma forma. Ignorar as escolhas e ações dos indivíduos e pregar a igualdade como ideal absoluto é uma tremenda estupidez – e uma tremenda injustiça.

Conclusão
Como se pode ver, ao ouvir um esquerdista é preciso perceber o que ele realmente quer dizer com as palavras. Em geral não é o que você imagina:

Sociedade não é mero conceito intangível usado para estudar os efeitos combinados das ações de muitos indivíduos. Sociedade para ele é um ente concreto – e os indivíduos é que são algo em que ele só pensa como abstração.

Liberdade não é a inexistência de impedimentos e ameaças criados por outros. Liberdade para ele é fazer apenas o que os outros (em geral representados por ele próprio) permitem que você faça – para o “bem comum”.

Justiça não é arcar com as conseqüências dos seus próprios atos. Justiça para ele é que todos tenham o mesmo resultado – independente das escolhas e capacidade de cada um.

Quando um esquerdista usar um conceito político, o mais seguro é supor que ele quer dizer exatamente o contrário.