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11 janeiro, 2008

Espectro político: Nem direita nem esquerda

O espectro político representado como função da liberdade econômica e pessoal que o indivíduo possui em uma sociedade, permite desfazer um dos equívocos mais nefastos do pensamento político: a idéia de que as alternativas que existem são “a esquerda” e “a direita”.

A figura, convenientemente, apresenta à esquerda a condição que se tem quando o governo segue o ideário “de esquerda”. Reciprocamente, à direita da figura estão as condições típicas de regimes “de direita”.



Como visto em “Comunismo” e “Teocracia”, os extremos destas posições são respectivamente a escravidão econômica com liberdade pessoal plena e plena liberdade econômica com total opressão pessoal.

Este espectro político deixa muito clara uma verdade simples: a disputa entre direita e esquerda não é uma disputa entre o bem e o mal (nem entre o mal e o bem). É uma disputa entre o mal e o mal.

Tanto esquerdistas quanto direitistas querem usar o governo para controlar os indivíduos. Ayn Rand foi muito sagaz ao observar que cada qual faz questão de escravizar o indivíduo apenas na esfera que julga importante.

O esquerdista não se importa com seu comportamento, sua alma ou o que você faz entre quatro paredes. Mas seu trabalho e a riqueza que você produz – isto ele faz questão de controlar. Admita ou não, o esquerdista é um materialista. Ele só se importa realmente com dinheiro.

O direitista ou conservador, como prega o cristianismo, considera “este mundo” algo temporário e sem importância ante a “vida eterna”. Como “daqui não se leva nada”, ele não se importa com sua riqueza material.

Mas o direitista faz questão de interferir quando o assunto é com quem você faz sexo ou se você resolve que não quer ter um filho. Estas coisas, afinal, podem te mandar para o inferno. Admita ou não, o direitista é um místico. As posições que ele defende com tanta convicção são baseadas em nada além de dogma.

Ser escravizado por gente obcecada com o dinheiro (dos outros, é claro) ou ser o rebanho de gente que exige que nos comportemos como eles querem? Não é de surpreender que as pessoas considerem política algo inerentemente asqueroso, afinal as alternativas que se oferecem são a tirania ou a tirania!

O pior talvez sejam aqueles que tentam conciliar o mal com o mal. O esquerdista ao menos defende a liberdade pessoal. O direitista ao menos defende a liberdade econômica. O “centrista”, no entanto, é a favor de opressão tanto na vida pessoal como na econômica! Fundamentalmente é um totalitário – acha que o governo deve interferir em tudo.

Pode encontrar regimes à direita do espectro político tão ruins quanto os que se encontram à esquerda. A vida de uma mulher sob o islamismo, por exemplo, pode ser considerada tão ruim quanto a de alguém sob o comunismo.

Embora a mulher desfrute de liberdades econômicas com as quais a outra pessoa só pode sonhar, a outra pessoa possui liberdades pessoais com que ela sonha. Ambos são vítimas, a opressão apenas tem formas diferentes.

Só se pode dizer que uma situação é melhor que outra quando ela se situa para cima no espectro político. Transitar entre direita e esquerda só significa trocar uma coisa ruim por outra.

Embora esquerda e direita sejam duas opções ruins em seus princípios, nas formas que se apresentam hoje no Brasil e no mundo ocidental não são igualmente ruins. Em primeiro lugar, a esquerda não é uniforme, pode ser dividida grosseiramente entre a “esquerda consistente” e a “esquerda pragmática”.

Chamo de “esquerda consistente” àqueles esquerdistas cuja política reflete com fidelidade os princípios do esquerdismo: que igualdade material é o ideal de justiça e que só é possível enriquecer explorando o próximo.

Ora se o ideal moral é a igualdade, assistencialismo não é suficiente. É moralmente obrigatório que o governo seja muito mais eficaz em promover a igualdade. A estatização da vida econômica é a única forma de atingir este objetivo. O Comunismo é o objetivo da esquerda consistente.

A “esquerda pragmática” são aqueles esquerdistas com um pouco mais de contato com a realidade. Perceberam que o Comunismo causa miséria e assassinato em massa sempre que é posto em prática.

Mas, embora tenha percebido que Comunismo não funciona, a “esquerda pragmática” não abandonou seus princípios. Continua fiel à idéia de que igualdade é o ideal moral, e que a prosperidade de um custa a miséria de outro.

A “esquerda pragmática” sabe que o seu ideal não funciona, mas insiste em fazer o possível para aproximar-se dele. Busca uma mistura ideal entre liberdade e escravidão que permita alguma geração de riqueza – apenas para tomá-la de quem a criou e usá-la em seu projeto igualitário.





Esquerda pragmática: mais liberdade econômica [1], mas apenas como "mal necessário" para gerar recursos para o governo.


A “esquerda pragmática” é fundamentalmente frustrada. Sempre que consegue um avanço na produção de riqueza, isso vem à custa da igualdade que é seu ideal. E todo passo em direção à igualdade destrói a geração de riqueza. Esta tentativa de conciliar o inconciliável é chamada Social Democracia.

Por fim, a direita. No Brasil e nos Estados Unidos, os direitistas (ou “conservadores”) são defensores da liberdade econômica, acompanhada de restrições à liberdade pessoal baseadas no cristianismo.

O cristianismo prega que desde a concepção o ser humano tem alma – e sua vida é sagrada. O conservador é, portanto, contra o aborto. O fato de que a oposição se baseia em um preceito religioso é obscurecido por inúmeros argumentos falaciosos.

O cristianismo prega que a relação entre homem e mulher é sacramentada por deus. O homossexualismo, o divórcio e outros desvios em relação ao que a religião define como “certo” no relacionamento pessoal e sexual entre pessoas são freqüentemente combatidos pelos conservadores – através do poder político.

O conservadorismo, no entanto, também não é uniforme. Embora exista, principalmente nos Estados Unidos, uma direita dogmática que busca ativamente impor a moral cristã através do governo, há também uma direita “light” – religiosa em alguns poucos temas específicos (o aborto é um exemplo), mas respeitosa de muitas liberdades pessoais, embora ocasionalmente a contragosto.



Direita e esquerda atuais: a esquerda oferece menos liberdade econômica [2] do que a direita oferece em liberdade pessoal [3]


“Direita” não é melhor que “esquerda”, mas o que esta direita “light” oferece hoje no Brasil e nos Estados Unidos é muito melhor do que o que querem os Comunistas e Social Democratas. A política típica “de direita” hoje não está apenas à direita, mas também acima da política de esquerda no espectro político – e isso é o que importa.



Esquerda e direita atuais: a direita é muito melhor que a esquerda consistente [4] e melhor que a esquerda pragmática [5], por oferecer mais liberdade em geral (acima, na figura)

Infelizmente no Brasil esta direita que, embora não ideal, representa uma melhoria inegável sobre o esquerdismo não encontra expressão à exceção de alguns poucos intelectuais e blogueiros.

Os defensores da verdadeira liberdade, nem de direita, nem de esquerda, são ainda mais raros.


Leitura recomendada: “Nem de direita, nem de esquerda”, por Leonard Read @ OrdemLivre.org (link)

26 dezembro, 2007

Espectro político: Teocracia

Representando o espectro político como a região definida pelas liberdades econômica e pessoal, o Capitalismo representa a máxima liberdade, o topo da figura.

À esquerda da figura estão os sistemas que dão liberdade pessoal e violam a liberdade econômica, à direita os que fazem o contrário. Na parte de baixo ficam regimes em que não há liberdade nem no plano pessoal nem no econômico.

A anarquia fica na zona cinzenta central. Não há governo para violar liberdades sistematicamente, por outro lado não há proteção alguma contra a violação pelo próximo. A liberdade pessoal e econômica está sujeita à interferência de todos com que se convive.

Um regime que permitisse a total liberdade econômica, ou seja, garantisse o direito de propriedade e não interferisse na produção e troca de riqueza, mas limitasse completamente a liberdade pessoal ficaria no canto direito.

Naturalmente esta situação extrema é impossível na prática. A vida do homem é uma vida econômica. Proibir a pornografia (de adultos, que fique claro), por exemplo, é uma limitação da liberdade pessoal, mas também implica o impedimento de uma série de atividades econômicas.

Há, no entanto, regimes que se aproximam desta situação. A teocracia islâmica é um bom exemplo. O islã é muito liberal em relação à produção e especialmente ao comércio. O direito à propriedade também é firmemente protegido, a pena para o roubo é perder uma mão.

Por outro lado, o Islã viola grosseiramente a liberdade pessoal. De seu comportamento sexual até o que comer e beber, o islã dita o que se pode ou não fazer. Mudar de religião é punível com a morte.

O homem que vive sob uma teocracia islâmica está muito próximo do canto direito da figura. Tem muita liberdade econômica e pouca liberdade pessoal. Já para uma mulher é diferente.

No islã a mulher é tratada praticamente como propriedade do homem, de seu pai ou marido. Daquela liberdade econômica que o homem tem ela não compartilha, muitas atividades são vedadas às mulheres, como dirigir automóveis.

Além de não possuir a mesma liberdade econômica do homem, a mulher tem ainda menos liberdade pessoal. De como se vestir até com quem, quando e o que pode falar ou quando e com quem casar, a vida da mulher é ditada pela lei islâmica e pela vontade dos homens. Uma mulher não pode sair de casa sem ser acompanhada por um homem da família.





Mulheres e homens na teocracia islâmica: mulheres têm (1) menos liberdade econômica e (2) menos liberdade pessoal


Para uma mulher, portanto, a teocracia islâmica é um regime que está abaixo do que o mesmo regime representa para um homem, por lhe dar menos liberdade econômica. Está ainda mais abaixo por dar-lhe ainda menos liberdade pessoal.

A teocracia cristã é um contraste interessante. Antes da reforma do cristianismo, quando a igreja e o estado se confundiam nos países europeus, existia algo muito diferente do que se observa no islamismo.

Até a história recente, com a reforma e a separação entre estado e igreja, o cristianismo nunca teve uma postura liberal quanto à atividade econômica. Um dos princípios do cristianismo é a condenação da riqueza. O próprio Jesus Cristo teria dito que é mais fácil passar um camelo no furo de uma agulha que entrar um rico no paraíso.

Ao legitimar o sistema feudal, em que o servo não tinha real direito de propriedade algum, a igreja cristã estabelecia um sistema que não assegurava quase nenhuma liberdade econômica ao indivíduo desta classe.

O servo era preso à terra, não podia ir trabalhar em outro lugar. Ele não era dono do resultado de seu trabalho, tinha de trabalhar pelo senhor feudal em troca do simples direito de existir.

O senhor feudal tinha mais liberdade econômica. Podia escolher a que dedicar suas terras, podia usar sua riqueza para promover a atividade econômica que quisesse e podia gastar sua riqueza com alguns luxos. Por outro lado, estava sempre sujeito à condenação moral por sua riqueza, e precisava dar à igreja parte de sua riqueza como tributo.

Tanto senhores quanto servos estavam sujeitos às imposições da igreja quanto a seu comportamento pessoal. Das questões sexuais até a obrigação de participar de cultos ou ritos, a igreja cristã impunha muitos limites à liberdade pessoal.

Mas no plano pessoal a situação era até certo ponto o contrário da econômica. Por uma simples questão de quantidade, bem como a insignificância dos servos enquanto indivíduos, a igreja estava muito mais preocupada com o comportamento dos senhores que com o dos servos. O servo provavelmente tinha mais liberdade pessoal que o senhor, embora ambos fossem oprimidos.






Servos e senhores na teocracia cristã medieval: servos têm (3) mais liberdade pessoal e (4) menos liberdade econômica


Esta comparação explica, em um nível muito abstrato, o que ocorreu durante a Idade Média. Enquanto no ocidente o sistema feudal mantinha a imensa maioria da população em estado servil, no mundo islâmico havia relativa liberdade econômica, a despeito da opressão das mulheres e da violação generalizada das liberdades pessoais.


Islã e cristianismo medieval: a esmagadora maioria da população cristã tinha (5) muito menos liberdade econômica que os homens no mundo islâmico

É por isso que no ocidente houve estagnação e até regresso econômico e científico neste período, enquanto a civilização islâmica guardou o legado dos Gregos e Romanos, e protagonizou avanços em diversos campos do conhecimento (matemática, astronomia e outros). Isto não quer dizer que o regime teocrático islâmico é bom, apenas que economicamente era melhor que o cristianismo medieval.


Após as reformas, as diversas vertentes do cristianismo se tornaram mais liberais tanto no plano pessoal quanto no econômico. Mais importante, no entanto, a igreja deixou de exercer poder político. Não existem teocracias cristãs no mundo atual, embora muitos governos sejam fortemente influenciados pela ética cristã.

A reforma do cristianismo e a separação (na prática, se nem sempre de direito) entre estado e igreja foi o que permitiu à humanidade finalmente começar a migrar para a metade de cima do espectro político.