26 junho, 2006

Filosofia: o que é e para que serve

É impossível para o ser humano viver sem filosofia. Mesmo que nunca tenha estudado ou pensado sobre o assunto, cada pessoa necessariamente tem uma filosofia, a filosofia é a base sobre a qual o pensamento humano opera. Ao dizer “estou com fome, vou comprar um sanduíche”, as principais questões filosóficas estão implícitas.

Se todos têm uma filosofia, mesmo que implícita, para que discutir o assunto? O ser humano não possui instinto: existe filosofia implícita mas não existe filosofia automática. Sua filosofia implícita pode conflitar com seu pensamento consciente, sua filosofia pode simplesmente estar errada. O resultado de um conflito entre pensamento consciente e filosofia implícita é a pergunta “porque nada dá certo nesse mundo?”. O resultado de uma filosofia errada – implícita ou não – é a destruição da vida humana.

A filosofia tem três grandes perguntas a responder. São perguntas que precisam de respostas para que uma pessoa consiga pensar, e portanto para que se consiga viver. Estas perguntas são: “O que existe?”, “Como eu sei disso?”, “O que devo fazer sobre isso?”. As partes da filosofia que estudam estas perguntas são, respectivamente, a Metafísica, a Epistemologia e a Ética.

A Metafísica é o estudo do que existe. As teorias metafísicas se resumem em sua essência a duas posições antagônicas: a precedência da consciência e a precedência da existência. A precedência da consciência é a teoria de que a realidade existe porque é percebida por alguém, a precedência da existência é a teoria de que a realidade existe independente do pensamento.

A Epistemologia é o estudo do conhecimento. De onde vem o conhecimento? A verdade existe? A metafísica é o ponto de partida para a definição de uma epistemologia, as alternativas essenciais na epistemologia são duas – e decorrentes das duas posições metafísicas. Da precedência da consciência decorre que a realidade é função da mente, desta forma a epistemologia associada necessariamente é que a verdade – entendida como a identificação de algum aspecto da realidade – também pode ser descoberta por meios plenamente mentais: pela fé, meditação ou iluminação divina. Da precedência da existência decorre que a realidade existe independente da mente, a verdade neste caso precisa ser descoberta observando a realidade: pela razão.

A Ética responde à terceira pergunta e depende das respostas anteriores. Para definir o que é certo e o que é errado é preciso primeiro saber o que é e como o sabemos. A conseqüência na ética de uma epistemologia baseada na fé é que os preceitos éticos precisam ser recebidos pela fé. A conseqüência de uma epistemologia baseada na razão é que os preceitos éticos precisam ser identificados e entendidos, com base na realidade que observamos.

Ao dizer “estou com fome, vou comprar um sanduíche” se reconhece que a realidade existe e não é maleável aos nossos desejos – é preciso agir para alterar a realidade. Reconhece-se que o conhecimento humano é válido – sabemos que comer um sanduíche faz passar a fome. Está embutido também um preceito ético – o da troca voluntária, ao se decidir comprar um sanduíche em vez de roubá-lo. Desta forma, no dia a dia, todos usam a filosofia.

As duas outras grandes áreas da filosofia são a Política e a Estética. “Como criar uma sociedade Ética?” é a pergunta a ser respondida pela Política; “O que é arte?” é a pergunta a ser respondida pela estética.

As teorias dos diversos filósofos naturalmente entram em mais detalhe sobre cada um destes assuntos, em cada caso é possível identificar a essência da resposta dada. Realidade ou fantasia? Razão ou fé? Nos artigos dedicados a cada uma destas questões serão estudadas as bases e as conseqüências de cada linha filosófica.