27 novembro, 2007

Capitalismo selvagem

Em geral o discurso anti-capitalista é dissimulado. O Capitalismo nada mais é que a defesa dos direitos individuais à vida, propriedade e liberdade. É evidente que seria muito difícil conquistar a simpatia das pessoas confrontando estes valores diretamente.

O típico argumento anti-capitalista, portanto, é difuso e equivocado, recheado de palavras de significado vago, apelos à emoção e inversões de valores. Às vezes isto é intencional, às vezes apenas reflexo de um pensamento igualmente difuso e equivocado, mesmo que bem intencionado.

De vez em quando, no entanto, os termos que os anti-capitalistas escolhem revelam muito mais sobre suas premissas do que eles percebem, ou gostariam. O termo “capitalismo selvagem” é um destes casos.

“Capitalismo selvagem” é uma símile entre o convívio humano sob o Capitalismo e a vida animal. Quem usa este termo, evidentemente pejorativo, pretende dizer que no Capitalismo o homem vive como um animal – só os mais fortes sobrevivem e toda disputa é resolvida pela força.

O erro conceitual é gritante. A vida animal é de competição física por recursos limitados disponíveis na natureza. A vida humana sob o Capitalismo é de produção e troca voluntária de riqueza.

Existe uma quantidade determinada de frutos nas árvores da floresta, se um animal se alimenta, exclui o outro. Para um ganhar, o outro tem de perder. Animais são irracionais, a força física é o único modo de disputa.

O homem não vive de coisas prontas na natureza há milênios. Desde que desenvolveu a faculdade da razão em sua forma mais primitiva, o homem não tem de disputar com seus semelhantes e com os animais um lote fixo de riqueza que ocorre naturalmente.

O homem, através da razão e da ação, produz aquilo que precisa para viver. Os materiais continuam sendo necessários – mas o único limite para o que se pode produzir é a capacidade de acessar e transformar o que existe na natureza. Ou seja, o limite é o conhecimento e o trabalho humano.

No Capitalismo, para uma pessoa ganhar não é preciso que outra perca. Quando se compra qualquer coisa no mercado, tanto o comprador quanto o lojista saem ganhando. Se o comprador não fosse sair ganhando, não faria a compra. Se o vendedor não saísse ganhando, fecharia a loja.

As relações no mundo animal, portanto, são perde-ganha. Para todo ganhador existe um perdedor. As relações humanas podem ser ganha-ganha – ambos os envolvidos em uma transação saem melhor do que entraram. Este é o erro grosseiro ao se comparar o Capitalismo com a selva.

Há também um segundo erro na mesma comparação. A competição no mundo animal é física. O líder de um grupo se estabelece pela força física, uma espécie sobrevive à custa de outra conforme suas capacidades físicas. Não existe negociação na natureza.

No Capitalismo, a competição física é proibida. A proteção dos direitos individuais é o banimento da força física das relações humanas. Sob este sistema, é proibido violar fisicamente a pessoa e a propriedade alheias. Fazer valer esta proibição é a única função do governo.

Se não é permitido no Capitalismo tomar as coisas dos outros à força nem ameaçá-los fisicamente, isto significa que toda a interação humana se dá pela persuasão. É preciso convencer o próximo, não se pode forçá-lo a nada no Capitalismo. Mais uma vez, é clara a diferença entre o Capitalismo e a “lei da selva”.

O anti-capitalista revela, pelo uso do termo “capitalismo selvagem”, não compreender que a produção, e não o consumo do que já existe, é a base da sobrevivência humana. Revela também que não reconhece distinção entre a força e a persuasão como meios de interação.

O primeiro erro é a raiz da obsessão da esquerda com a “distribuição de renda”. Não reconhecendo que riqueza não é algo que existe pronta, nem que seu único limite é o esforço humano, o anti-capitalista quer “dividir o bolo” – sem perceber que o “bolo” não é seu para dividir, porque cada um por natureza já fica com pedaço que criou.

O segundo erro é a causa pela qual todo anti-capitalista defende ações governamentais que violam os direitos dos indivíduos sem a menor vergonha – da expropriação via impostos até a proibição de inúmeras ações legítimas através da regulamentação.

Sem reconhecer diferença entre força e persuasão, é natural para o esquerdista querer usar a força contra quem discorda dele. Muito mais prático que tentar convencê-lo.

Capitalismo selvagem é uma contradição. São dois erros fundamentais do pensamento anti-capitalista resumidos em uma simples expressão idiomática.