Se todo o conhecimento humano é baseado na integração das nossas percepções, o conhecimento é contextual. Isto significa que o critério para determinar se algo é verdade não é algo transcendental e sim a aplicação do pensamento racional: responder duas perguntas aparentemente simples: “Qual a evidência de que isto é verdade?” e “Isto contradiz algo do que já sei?”
A primeira pergunta decorre diretamente da metafísica. A precedência da existência assegura que coisas existem. Aquilo que existe possui identidade, possui uma natureza específica, aquilo que não existe também não pode possuir propriedade alguma.
Uma afirmação positiva é uma afirmação que identifica algum existente ou um aspecto de um existente – tal como “peixes existem” ou “o céu é azul”. Uma afirmação negativa é uma afirmação que nega a existência de algo ou alguma propriedade de um existente – tal como “gorilas não são racionais” ou “não existe vida inteligente na Lua”.
Como apenas existentes possuem propriedades, só pode haver evidência da existência, evidência de inexistência é uma contradição – é exigir que algo que não existe possua propriedades perceptíveis. O entendimento deste princípio epistemológico é essencial e pode ser condensado em duas frases: “é preciso provar as afirmações afirmativas” e “é impossível provar afirmações negativas”.
Uma afirmação positiva sem evidência não é falsa – é menos que isso. A frase do físico Wolfgang Pauli “Isto não está nem errado” descreve bem qual a reação correta frente a tal afirmação. Uma afirmação positiva sem evidência é arbitrária – é algo que não possui vínculo com a realidade. O arbitrário não precisa ser refutado, pode ser descartado imediatamente.
A ausência de evidência, no entanto, é suficiente para uma afirmação negativa. A afirmação “Não existem unicórnios em Júpiter” é verdadeira – não porque se pode provar que cavalos com um chifre na testa estão ausentes naquele planeta, a inexistência não gera evidências – mas porque não há evidência de que eles existam.
Esta questão é conhecida como o “ônus da prova”. A metafísica e a epistemologia racionais colocam o “ônus da prova” sobre quem faz afirmações positivas sobre a realidade.
A pergunta “qual a evidência de que isto é verdade” separa portanto o arbitrário daquilo que merece consideração. No próximo artigo veremos como a verdade pode ser determinada e quais as conseqüências disto para quem pretende ser racional.
31 julho, 2006
21 julho, 2006
Morales, criminoso
Dia primeiro de Maio o exército da Bolívia ocupou refinarias e campos de extração da Petrobrás e das demais empresas de petróleo e gás instaladas no país. O presidente boliviano Evo Morales decretou a nacionalização da indústria de hidrocarbonetos, promessa sua de campanha. Pelo decreto 51% da propriedade de todas as empresas do setor passa a pertencer ao governo boliviano. Foram rasgados os contratos firmados com estas empresas.
O presidente Lula reagiu ao ocorrido classificando as ações de Evo Morales como um “ato de soberania”. A soberania pode ser definida como o caráter de um estado que não está submetido ao poder de nenhum outro estado. O governo boliviano firmou acordos com a Petrobrás e com o governo brasileiro por sua livre decisão. Firmar estes acordos não envolveu a submissão do estado boliviano, pelo contrário, foi exatamente um exercício de soberania. Renegar estes acordos, por outro lado, não se trata simplesmente de decidir independentemente os rumos da nação como é próprio de um estado soberano – trata se de quebrar um acordo voluntariamente assumido com outro estado soberano. Não foi preciso usar tropas do exército para firmar os acordos com o Brasil, mas elas foram necessárias para quebrá-lo. O uso não provocado da força é um claro indicativo de que a ética foi violada.
A relação entre estados é muito similar à relação entre indivíduos. Estados que não violam direitos têm a prerrogativa de defender suas fronteiras e sua integridade, assim como indivíduos que não são criminosos têm direito às suas vidas e propriedade. Estados independentes podem voluntariamente firmar acordos, assim como indivíduos. A grande diferença é que na relação entre estados não há um sistema judiciário para julgar os conflitos, nem existe uma polícia para punir os criminosos. Ao renegar contratos e acordos voluntariamente assumidos, em prejuízo de outros e sem compensação, o governo boliviano cometeu quebra de contrato – um crime. Ao se apossar da propriedade de outros à força cometeu outro crime: o equivalente a um assalto à mão armada. Um governo não tem o direito de tomar a propriedade de seus cidadãos, nem tem o direito de tomar a propriedade de estrangeiros. Isto não é exercício de soberania, é crime cometido contra estas pessoas.
Mas a Bolívia não tem o direito de determinar o destino do seu óleo e gás? Foi exatamente o que o governo boliviano fez ao firmar os acordos com a Petrobrás e as demais empresas petroquímicas instaladas no país. É importante salientar que recursos naturais não são riqueza. O governo, as empresas e os cidadãos da Bolívia não tinham recursos nem conhecimento para extrair e processar os recursos naturais de seu país, o que é necessário para transformar algo que é um mero fenômeno geológico em algo de valor para o homem – em riqueza. Sem o capital e o conhecimento da Petrobrás os bolivianos continuariam sua economia de subsistência, sentados sobre toneladas de gás natural inacessíveis e portanto inúteis.
Este capital e conhecimento não é fruto do acaso, não é uma dádiva divina, não foi tomado dos bolivianos. Este capital e conhecimento é fruto do trabalho de milhões de brasileiros cujo dinheiro foi tomado em impostos e usado para erguer esta estatal, é fruto do trabalho dos milhares de funcionários da Petrobrás, é fruto do trabalho de milhões de brasileiros e estrangeiros que investiram direta ou indiretamente nas ações da Petrobrás. A propriedade nada mais é que o reconhecimento que o homem trabalha para produzir, e que o homem produz para beneficiar sua vida. É reconhecer que o homem tem o direito sobre os resultados de seu trabalho. É por isso que mesmo não existindo uma autoridade à qual o governo boliviano esteja submetido, tomar a propriedade da Petrobrás – de todos aqueles que realizaram o esforço para que ela existisse – é criminoso. Tomar à força o resultado do trabalho de milhões de pessoas no Dia do Trabalho é de uma ironia singular.
Como Olavo de Carvalho diz em seu artigo “Traição anunciada”, a atitude do presidente Lula de elogiar um governo estrangeiro por cometer um crime contra cidadãos brasileiros é causa suficiente para justificar seu impeachment. O governo existe para defender os direitos dos cidadãos, um governo que apóia sua violação é um governo ilegítimo.
Qual seria a atitude correta a ser tomada pelo governo brasileiro frente à agressão boliviana? A primeira atitude a tomar é condenar moralmente o governo boliviano. É preciso dizer claramente que o governo boliviano não tem o direito de tomar a propriedade alheia à força. É preciso dizer que o que foi feito é crime e não será tolerado. O governo brasileiro fez exatamente o contrário.
A condenação moral clara e inequívoca é fundamental, mas insuficiente. É preciso também tomar todas as ações para que o criminoso não se beneficie de seu crime. De imediato deveriam ser suspensas todas as formas de ajuda, financeira e não financeira, à Bolívia. O perdão da dívida boliviana deveria ser sumariamente revogado. Todos os planos de investimento na Bolívia e em infra estrutura de ligação com aquele país (tais como gasodutos) deveriam ser imediatamente interrompidos, seus fundos a serem usados para obter de outras fontes os recursos que o Brasil precisa. Finalmente, caso estas ações não sejam suficientes para reverter a decisão do governo boliviano, as instalações tomadas de brasileiros deveriam ser inutilizadas. É fundamental, além da condenação moral, não auxiliar o criminoso. Piedade com os culpados é traição aos inocentes.
Não estaríamos prejudicando bolivianos inocentes ao suspender ajuda, financiamento e investimentos? Ao inutilizar aquilo que seu governo tomou à força? Não ajudar é diferente de prejudicar. Ao suspender ajuda, não se está prejudicando – se está retornando à situação inicial. Ao inutilizar o que foi roubado não se está prejudicando ninguém – se está retornando ao estado inicial. Isto é justiça. Evo Morales foi eleito prometendo cometer este crime, os bolivianos inocentes sofreriam pelo erro de seus compatriotas – não por culpa do Brasil.
Artigo escrito em 10 de Maio de 2006.
O presidente Lula reagiu ao ocorrido classificando as ações de Evo Morales como um “ato de soberania”. A soberania pode ser definida como o caráter de um estado que não está submetido ao poder de nenhum outro estado. O governo boliviano firmou acordos com a Petrobrás e com o governo brasileiro por sua livre decisão. Firmar estes acordos não envolveu a submissão do estado boliviano, pelo contrário, foi exatamente um exercício de soberania. Renegar estes acordos, por outro lado, não se trata simplesmente de decidir independentemente os rumos da nação como é próprio de um estado soberano – trata se de quebrar um acordo voluntariamente assumido com outro estado soberano. Não foi preciso usar tropas do exército para firmar os acordos com o Brasil, mas elas foram necessárias para quebrá-lo. O uso não provocado da força é um claro indicativo de que a ética foi violada.
A relação entre estados é muito similar à relação entre indivíduos. Estados que não violam direitos têm a prerrogativa de defender suas fronteiras e sua integridade, assim como indivíduos que não são criminosos têm direito às suas vidas e propriedade. Estados independentes podem voluntariamente firmar acordos, assim como indivíduos. A grande diferença é que na relação entre estados não há um sistema judiciário para julgar os conflitos, nem existe uma polícia para punir os criminosos. Ao renegar contratos e acordos voluntariamente assumidos, em prejuízo de outros e sem compensação, o governo boliviano cometeu quebra de contrato – um crime. Ao se apossar da propriedade de outros à força cometeu outro crime: o equivalente a um assalto à mão armada. Um governo não tem o direito de tomar a propriedade de seus cidadãos, nem tem o direito de tomar a propriedade de estrangeiros. Isto não é exercício de soberania, é crime cometido contra estas pessoas.
Mas a Bolívia não tem o direito de determinar o destino do seu óleo e gás? Foi exatamente o que o governo boliviano fez ao firmar os acordos com a Petrobrás e as demais empresas petroquímicas instaladas no país. É importante salientar que recursos naturais não são riqueza. O governo, as empresas e os cidadãos da Bolívia não tinham recursos nem conhecimento para extrair e processar os recursos naturais de seu país, o que é necessário para transformar algo que é um mero fenômeno geológico em algo de valor para o homem – em riqueza. Sem o capital e o conhecimento da Petrobrás os bolivianos continuariam sua economia de subsistência, sentados sobre toneladas de gás natural inacessíveis e portanto inúteis.
Este capital e conhecimento não é fruto do acaso, não é uma dádiva divina, não foi tomado dos bolivianos. Este capital e conhecimento é fruto do trabalho de milhões de brasileiros cujo dinheiro foi tomado em impostos e usado para erguer esta estatal, é fruto do trabalho dos milhares de funcionários da Petrobrás, é fruto do trabalho de milhões de brasileiros e estrangeiros que investiram direta ou indiretamente nas ações da Petrobrás. A propriedade nada mais é que o reconhecimento que o homem trabalha para produzir, e que o homem produz para beneficiar sua vida. É reconhecer que o homem tem o direito sobre os resultados de seu trabalho. É por isso que mesmo não existindo uma autoridade à qual o governo boliviano esteja submetido, tomar a propriedade da Petrobrás – de todos aqueles que realizaram o esforço para que ela existisse – é criminoso. Tomar à força o resultado do trabalho de milhões de pessoas no Dia do Trabalho é de uma ironia singular.
Como Olavo de Carvalho diz em seu artigo “Traição anunciada”, a atitude do presidente Lula de elogiar um governo estrangeiro por cometer um crime contra cidadãos brasileiros é causa suficiente para justificar seu impeachment. O governo existe para defender os direitos dos cidadãos, um governo que apóia sua violação é um governo ilegítimo.
Qual seria a atitude correta a ser tomada pelo governo brasileiro frente à agressão boliviana? A primeira atitude a tomar é condenar moralmente o governo boliviano. É preciso dizer claramente que o governo boliviano não tem o direito de tomar a propriedade alheia à força. É preciso dizer que o que foi feito é crime e não será tolerado. O governo brasileiro fez exatamente o contrário.
A condenação moral clara e inequívoca é fundamental, mas insuficiente. É preciso também tomar todas as ações para que o criminoso não se beneficie de seu crime. De imediato deveriam ser suspensas todas as formas de ajuda, financeira e não financeira, à Bolívia. O perdão da dívida boliviana deveria ser sumariamente revogado. Todos os planos de investimento na Bolívia e em infra estrutura de ligação com aquele país (tais como gasodutos) deveriam ser imediatamente interrompidos, seus fundos a serem usados para obter de outras fontes os recursos que o Brasil precisa. Finalmente, caso estas ações não sejam suficientes para reverter a decisão do governo boliviano, as instalações tomadas de brasileiros deveriam ser inutilizadas. É fundamental, além da condenação moral, não auxiliar o criminoso. Piedade com os culpados é traição aos inocentes.
Não estaríamos prejudicando bolivianos inocentes ao suspender ajuda, financiamento e investimentos? Ao inutilizar aquilo que seu governo tomou à força? Não ajudar é diferente de prejudicar. Ao suspender ajuda, não se está prejudicando – se está retornando à situação inicial. Ao inutilizar o que foi roubado não se está prejudicando ninguém – se está retornando ao estado inicial. Isto é justiça. Evo Morales foi eleito prometendo cometer este crime, os bolivianos inocentes sofreriam pelo erro de seus compatriotas – não por culpa do Brasil.
Artigo escrito em 10 de Maio de 2006.
Como sabemos II
Para responder à pergunta “Como sabemos?” é preciso primeiro definir o que é “saber”. Saber é ter conhecimento de algo e tê-lo como verdade. Alguns conceitos de genus similar são “suspeitar” e “achar” – nestes casos tem se conhecimento de algo mas a verdade daquilo está em dúvida, em maior ou menor grau.
A chave de toda a difícil questão, portanto, é definir “verdade” e como ela pode ser determinada. Se a realidade existe, a verdade é a identificação de um aspecto da realidade. A afirmação “o livro está sobre a mesa” é verdadeira se existe um livro, existe uma mesa e o livro de fato se situa sobre ela.
Já foi visto que todos os conceitos são construídos a partir de percepções ou de outros conceitos – que por sua vez foram construídos a partir de percepções. Os sentidos são portanto o ponto de partida de todo o conhecimento humano – são inclusive condição necessária para o próprio pensamento conceitual. Um cérebro humano que nunca recebesse estímulo externo algum seria completamente incapaz de pensar.
A percepção direta é, portanto, a primeira ferramenta para identificar aspectos da realidade. Simplesmente olhar para a mesa é suficiente para concluir que “o livro está sobre a mesa” é verdade – ou não. A objeção Kantiana é que não podemos acreditar em nossos sentidos: o livro pode ser um holograma, a posição relativa do livro e da mesa pode ser uma ilusão de ótica, o livro pode – na realidade “ideal” de Kant – ser uma jabuticaba, mas nossos sentidos a distorcem e a fazem parecer um livro.
Outra objeção, esta mais sensata, é que muitas vezes a percepção direta nos fornece uma impressão que não é verdadeira. O exemplo clássico é o da terra plana. Acreditou-se por milênios que a terra era plana – e a percepção direta certamente pode dar esta impressão. Se algo tido como verdade – e suportado pela percepção direta – pode depois se demonstrar errado, como confiar em nossos sentidos?
Este argumento é estendido além da mera questão dos sentidos. Se algumas coisas que tínhamos como verdade depois descobrimos que estão erradas, como podemos ter certeza de qualquer coisa? É sempre possível que acabemos descobrindo que estávamos errados! Esta é a base do Ceticismo.
Implícita em ambas as teses acima está uma definição de verdade – a mesma que ambas demonstram ser impossível de conhecer. A definição implícita é que a verdade é uma identificação de algum aspecto da realidade "como ela realmente é". Embora esta definição pareça boa, ela não reconhece a maneira como o homem adquire conhecimento.
Kant conclui que como não podemos transportar magicamente a própria realidade para dentro de nossa mente todo o conhecimento é impossível. David Hume, o pai do Ceticismo filosófico moderno, conclui que até sabermos tudo, não sabemos nada. Estas conclusões não surpreendem, são a mera repetição do que já está implícito nas premissas de cada um: um critério de "verdade" que é impossível satisfazer na realidade.
A contradição que ambas as idéias incluem – e que nos garante que ambos estão errados é: se a verdade é impossível, como saber que a verdade é impossível? Usar a lógica para demonstrar que a verdade é impossível é como tentar argumentar que você mesmo não existe.
A identificação essencial da Epistemologia Objetivista é que o pensamento humano é fundamentado na percepção. A conseqüência disto é que o conhecimento é contextual. A verdade, por se tratar da identificação de algum aspecto da realidade, necessariamente precisa considerar como funciona a consciência. O critério para determinar a "verdade" não pode demandar conhecimento automático, isso não existe.
A maneira de conhecer a verdade é conseqüência direta da Metafísica racional. A realidade existe e independe de nossos pensamentos e vontades. Se a realidade é uma só, e existir é possuir identidade, a chave para a verdade é a não-contradição. Nós adquirimos conhecimento a partir da percepção, o entendimento correto de “verdade”, portanto, é uma identificação de algum aspecto da realidade, sem contradições.
Uma verdade é algo baseado em evidência e que não contradiz outras evidências. Achar que a terra é plana é perfeitamente justificável se ninguém nunca viu nada que indicasse o contrário. Ao ver um barco “afundando” no horizonte, porém, surge uma evidência conflitante – é preciso então buscar uma nova explicação. O fato de que o conhecimento é contextual afunda o Idealismo e o Ceticismo e reduz suas objeções ao seu verdadeiro grau de relevância: não temos conhecimento automático da realidade, não somos onicientes - e isso não significa que o conhecimento que temos é inválido.
Nos próximos artigos sobre Epistemologia veremos como o significado correto do conceito “verdade” valida a capacidade humana para entender o universo.
A chave de toda a difícil questão, portanto, é definir “verdade” e como ela pode ser determinada. Se a realidade existe, a verdade é a identificação de um aspecto da realidade. A afirmação “o livro está sobre a mesa” é verdadeira se existe um livro, existe uma mesa e o livro de fato se situa sobre ela.
Já foi visto que todos os conceitos são construídos a partir de percepções ou de outros conceitos – que por sua vez foram construídos a partir de percepções. Os sentidos são portanto o ponto de partida de todo o conhecimento humano – são inclusive condição necessária para o próprio pensamento conceitual. Um cérebro humano que nunca recebesse estímulo externo algum seria completamente incapaz de pensar.
A percepção direta é, portanto, a primeira ferramenta para identificar aspectos da realidade. Simplesmente olhar para a mesa é suficiente para concluir que “o livro está sobre a mesa” é verdade – ou não. A objeção Kantiana é que não podemos acreditar em nossos sentidos: o livro pode ser um holograma, a posição relativa do livro e da mesa pode ser uma ilusão de ótica, o livro pode – na realidade “ideal” de Kant – ser uma jabuticaba, mas nossos sentidos a distorcem e a fazem parecer um livro.
Outra objeção, esta mais sensata, é que muitas vezes a percepção direta nos fornece uma impressão que não é verdadeira. O exemplo clássico é o da terra plana. Acreditou-se por milênios que a terra era plana – e a percepção direta certamente pode dar esta impressão. Se algo tido como verdade – e suportado pela percepção direta – pode depois se demonstrar errado, como confiar em nossos sentidos?
Este argumento é estendido além da mera questão dos sentidos. Se algumas coisas que tínhamos como verdade depois descobrimos que estão erradas, como podemos ter certeza de qualquer coisa? É sempre possível que acabemos descobrindo que estávamos errados! Esta é a base do Ceticismo.
Implícita em ambas as teses acima está uma definição de verdade – a mesma que ambas demonstram ser impossível de conhecer. A definição implícita é que a verdade é uma identificação de algum aspecto da realidade "como ela realmente é". Embora esta definição pareça boa, ela não reconhece a maneira como o homem adquire conhecimento.
Kant conclui que como não podemos transportar magicamente a própria realidade para dentro de nossa mente todo o conhecimento é impossível. David Hume, o pai do Ceticismo filosófico moderno, conclui que até sabermos tudo, não sabemos nada. Estas conclusões não surpreendem, são a mera repetição do que já está implícito nas premissas de cada um: um critério de "verdade" que é impossível satisfazer na realidade.
A contradição que ambas as idéias incluem – e que nos garante que ambos estão errados é: se a verdade é impossível, como saber que a verdade é impossível? Usar a lógica para demonstrar que a verdade é impossível é como tentar argumentar que você mesmo não existe.
A identificação essencial da Epistemologia Objetivista é que o pensamento humano é fundamentado na percepção. A conseqüência disto é que o conhecimento é contextual. A verdade, por se tratar da identificação de algum aspecto da realidade, necessariamente precisa considerar como funciona a consciência. O critério para determinar a "verdade" não pode demandar conhecimento automático, isso não existe.
A maneira de conhecer a verdade é conseqüência direta da Metafísica racional. A realidade existe e independe de nossos pensamentos e vontades. Se a realidade é uma só, e existir é possuir identidade, a chave para a verdade é a não-contradição. Nós adquirimos conhecimento a partir da percepção, o entendimento correto de “verdade”, portanto, é uma identificação de algum aspecto da realidade, sem contradições.
Uma verdade é algo baseado em evidência e que não contradiz outras evidências. Achar que a terra é plana é perfeitamente justificável se ninguém nunca viu nada que indicasse o contrário. Ao ver um barco “afundando” no horizonte, porém, surge uma evidência conflitante – é preciso então buscar uma nova explicação. O fato de que o conhecimento é contextual afunda o Idealismo e o Ceticismo e reduz suas objeções ao seu verdadeiro grau de relevância: não temos conhecimento automático da realidade, não somos onicientes - e isso não significa que o conhecimento que temos é inválido.
Nos próximos artigos sobre Epistemologia veremos como o significado correto do conceito “verdade” valida a capacidade humana para entender o universo.
18 julho, 2006
Como sabemos I
Como vimos na Metafísica, a existência é axiomática – incontestável. Assim como não se pode propor um argumento contra a existência sem cair em contradição (você precisa existir para propor um argumento), também é impossível argumentar contra a consciência (você precisa pensar para propor um argumento). A tarefa da Epistemologia é explicar como somos capazes de saber.
O primeiro passo é entender como funciona a nossa consciência. Ayn Rand foi a primeira a explicar de maneira consistente e completa a nossa consciência, que ela identificou como uma consciência conceitual. Sua “Teoria dos Conceitos” parte do fato já identificado por Aristóteles de que ao nascer a mente humana é tabula rasa – todos viemos ao mundo dotados de mentes capazes de pensar, mas sem conteúdo algum.
O crescimento de um ser humano, desde bebê até adulto, deixa claro que a capacidade mental se desenvolve ao longo da vida. Ao nascer somos capazes apenas de reagir a estímulos diretos, depois de algum tempo estamos curando doenças e escrevendo sinfonias. O que aconteceu neste intervalo?
Para uma mente em branco a visão não oferece a identificação de objetos, apenas uma superposição de cores. Para uma mente em branco a fala não é uma seqüência de palavras, é uma seqüência de sons.
O primeiro conceito que precisa ser formado é o conceito de “objeto”, ou mais apropriadamente “coisa”. Em algum momento o bebê identifica que aquele conjunto de cores, luz e sombras que ele associou com bem estar pois sempre precede sua alimentação, ou aquele círculo vermelho que de vez em quando aparece em seu campo de visão não são meras coincidências em um caleidoscópio sem sentido. O que ele está vendo é alguma coisa. Ele ainda está longe de saber o que é sua mãe e o que é a bola de brinquedo colocada em seu berço – mas já deu o primeiro passo nesta direção.
Munido deste único conceito o bebê se vê imerso em um mundo de coisas. A coisa que mata sua fome, a coisa pendurada sobre a coisa onde ele está, as coisas que ele consegue agitar quando quer, a coisa – parecida com as outras quatro coisas que ficam grudadas nela – que ele gosta de por na boca.
O próximo conceito essencial é o conceito de “eu”. Em algum momento o bebê percebe que há coisas que ele controla diretamente (seus braços e mãos por exemplo) e outras que não. Esta identificação é a primeira realizada usando a qualidade que nos separa dos animais (alguns dos quais são capazes de identificar objetos – como qualquer dono de gato ou cachorro sabe).
O mecanismo de formação de conceitos pode ser explicado com este exemplo. Existem coisas (a identificação primordial). Algumas coisas eu controlo diretamente, outras não (diferenciação). As coisas que controlo diretamente sou “eu” (a integração). Todo conceito portanto é formado por uma diferenciação e uma integração, com base em percepção direta ou em outros conceitos.
Em uma casa existem móveis (conceito mais genérico). Alguns móveis usamos para sentar e alguns destes têm encosto (diferenciação). Chamamos estes móveis usados para sentar e com encosto de “cadeira” (integração).
O ponto de partida é um conjunto, de percepções ou de objetos ou de conceitos já identificados, a diferenciação é a identificação de uma característica de interesse em um sub-conjunto, a integração é a associação de todos os membros do sub-conjunto ao novo conceito. O passo da integração é interessante em que o conceito abrange todos os existentes que cabem em sua descrição, e no fato de que é necessária uma linguagem para amarrar o conceito.
O conceito “Cadeira” inclui todas as cadeiras que existem, todas as que existiram, todas as que virão a existir e todas as que podem ser imaginadas. Se eu disser “cadeira de gelo” você sabe do que estou falando, mesmo que nunca tenha visto o objeto a que me refiro, mesmo que o objeto nem exista. Mas a palavra cadeira é essencial na integração do conceito.
Poderíamos chamar cadeiras de “mrh”, de “Δ” ou de um gesto com as mãos. Sem uma linguagem para guardar o significado de “móvel em que se senta e que tem encosto” seria impossível integrar o conceito. Seria impossível integrar o conceito de “móvel” e o de “sentar” e o de “encosto” também. Não estou falando de comunicação – é impossível pensar sem associar os conceitos a alguma representação. Estaríamos limitados ao nível da percepção sem a linguagem. Identificar coisas e reagir a elas por associação – mas sem a capacidade de pensar sobre elas.
O entendimento de como nossas mentes formam conceitos nos dá uma ferramenta muito útil: como fazer boas definições. Uma boa definição é uma definição que respeita a estrutura do pensamento conceitual: ela oferece genus (gênero, o conjunto inicial) e differentia (a diferenciação), para definir o conceito (a integração).
Se você não gostou da minha definição de cadeira acima, provavelmente é porque achou meu differentia insuficiente. Cadeira é um móvel (genus) em que se senta, têm encosto e que comporta uma pessoa (differentia). Esta é uma definição que elimina a ambigüidade com sofás – por exemplo.
Na próxima parte deste artigo veremos as conseqüências da maneira como pensamos e como podemos responder à pergunta: como você sabe?
O primeiro passo é entender como funciona a nossa consciência. Ayn Rand foi a primeira a explicar de maneira consistente e completa a nossa consciência, que ela identificou como uma consciência conceitual. Sua “Teoria dos Conceitos” parte do fato já identificado por Aristóteles de que ao nascer a mente humana é tabula rasa – todos viemos ao mundo dotados de mentes capazes de pensar, mas sem conteúdo algum.
O crescimento de um ser humano, desde bebê até adulto, deixa claro que a capacidade mental se desenvolve ao longo da vida. Ao nascer somos capazes apenas de reagir a estímulos diretos, depois de algum tempo estamos curando doenças e escrevendo sinfonias. O que aconteceu neste intervalo?
Para uma mente em branco a visão não oferece a identificação de objetos, apenas uma superposição de cores. Para uma mente em branco a fala não é uma seqüência de palavras, é uma seqüência de sons.
O primeiro conceito que precisa ser formado é o conceito de “objeto”, ou mais apropriadamente “coisa”. Em algum momento o bebê identifica que aquele conjunto de cores, luz e sombras que ele associou com bem estar pois sempre precede sua alimentação, ou aquele círculo vermelho que de vez em quando aparece em seu campo de visão não são meras coincidências em um caleidoscópio sem sentido. O que ele está vendo é alguma coisa. Ele ainda está longe de saber o que é sua mãe e o que é a bola de brinquedo colocada em seu berço – mas já deu o primeiro passo nesta direção.
Munido deste único conceito o bebê se vê imerso em um mundo de coisas. A coisa que mata sua fome, a coisa pendurada sobre a coisa onde ele está, as coisas que ele consegue agitar quando quer, a coisa – parecida com as outras quatro coisas que ficam grudadas nela – que ele gosta de por na boca.
O próximo conceito essencial é o conceito de “eu”. Em algum momento o bebê percebe que há coisas que ele controla diretamente (seus braços e mãos por exemplo) e outras que não. Esta identificação é a primeira realizada usando a qualidade que nos separa dos animais (alguns dos quais são capazes de identificar objetos – como qualquer dono de gato ou cachorro sabe).
O mecanismo de formação de conceitos pode ser explicado com este exemplo. Existem coisas (a identificação primordial). Algumas coisas eu controlo diretamente, outras não (diferenciação). As coisas que controlo diretamente sou “eu” (a integração). Todo conceito portanto é formado por uma diferenciação e uma integração, com base em percepção direta ou em outros conceitos.
Em uma casa existem móveis (conceito mais genérico). Alguns móveis usamos para sentar e alguns destes têm encosto (diferenciação). Chamamos estes móveis usados para sentar e com encosto de “cadeira” (integração).
O ponto de partida é um conjunto, de percepções ou de objetos ou de conceitos já identificados, a diferenciação é a identificação de uma característica de interesse em um sub-conjunto, a integração é a associação de todos os membros do sub-conjunto ao novo conceito. O passo da integração é interessante em que o conceito abrange todos os existentes que cabem em sua descrição, e no fato de que é necessária uma linguagem para amarrar o conceito.
O conceito “Cadeira” inclui todas as cadeiras que existem, todas as que existiram, todas as que virão a existir e todas as que podem ser imaginadas. Se eu disser “cadeira de gelo” você sabe do que estou falando, mesmo que nunca tenha visto o objeto a que me refiro, mesmo que o objeto nem exista. Mas a palavra cadeira é essencial na integração do conceito.
Poderíamos chamar cadeiras de “mrh”, de “Δ” ou de um gesto com as mãos. Sem uma linguagem para guardar o significado de “móvel em que se senta e que tem encosto” seria impossível integrar o conceito. Seria impossível integrar o conceito de “móvel” e o de “sentar” e o de “encosto” também. Não estou falando de comunicação – é impossível pensar sem associar os conceitos a alguma representação. Estaríamos limitados ao nível da percepção sem a linguagem. Identificar coisas e reagir a elas por associação – mas sem a capacidade de pensar sobre elas.
O entendimento de como nossas mentes formam conceitos nos dá uma ferramenta muito útil: como fazer boas definições. Uma boa definição é uma definição que respeita a estrutura do pensamento conceitual: ela oferece genus (gênero, o conjunto inicial) e differentia (a diferenciação), para definir o conceito (a integração).
Se você não gostou da minha definição de cadeira acima, provavelmente é porque achou meu differentia insuficiente. Cadeira é um móvel (genus) em que se senta, têm encosto e que comporta uma pessoa (differentia). Esta é uma definição que elimina a ambigüidade com sofás – por exemplo.
Na próxima parte deste artigo veremos as conseqüências da maneira como pensamos e como podemos responder à pergunta: como você sabe?
13 julho, 2006
"A boa lição do PCC"
Em um pequeno artigo publicado em 13 de Julho de 2006 com o título acima, Gilberto Dimenstein ilustra inversões de valores muito sérias, conseqüência de premissas erradas e falta de integração do conhecimento. Ele diz:
Que o PCC foi formado e é comandado de dentro de presídios é um fato. Que criminosos levados a estes presídios são potenciais membros da organização criminosa também. A conclusão que prender mais criminosos torna o risco ao cidadão maior, no entanto, só procede se olharmos estes dois fatos e ignorarmos todo o resto da realidade.
Um criminoso que vai preso é um criminoso a menos nas ruas, onde ele pode efetivamente causar dano aos cidadãos (note que não me refiro “à sociedade”, a sociedade não pode ser assaltada nem assassinada, eu e você sim). Se após ser preso este criminoso se associa ao PCC, isto não traz risco ao cidadão – o que traz risco são os criminosos fora da cadeia.
Se há criminosos comandando – e até cometendo – crimes de dentro das cadeias, o problema são as cadeias que o permitem e não o fato de que prendemos criminosos. Se criminosos associados ao PCC que fogem das cadeias são perigosos, o problema é que eles fugiram, não que foram presos.
A maior inversão no entanto, tanto mais comum quanto é mais grave, é a que segue:
Esta afirmação tem uma série de premissas implícitas, a serem aceitas implicitamente pelo leitor, e que refletem o pensamento estatista e socialista tão difundido em nosso país.
A primeira premissa implícita, a mais grave e a mais comum, é que pobreza causa criminalidade. Isto é um insulto à razão humana, pois nega a autonomia de cada um para tomar decisões – e decidir fazer o que é certo. É um insulto a todas as pessoas pobres e honestas, pois se a criminalidade é conseqüência da pobreza quem é pobre e honesto só pode ser otário. É um insulto à realidade, pois além dos milhões de pobres honestos temos milhares de ricos criminosos neste país para provar o contrário.
A conseqüência desta premissa errada é que a real causa da criminalidade não é identificada. A real causa da criminalidade é a percepção de impunidade, o fato de que quando uma pessoa decide violar os direitos de outra ela aparentemente não sofre as conseqüências. Ao falhar em identificar esta causa, o articulista propõe que prender mais criminosos aumenta o crime – o exato oposto da realidade.
A segunda premissa implícita é que o governo é capaz de combater a pobreza. Ao dizer “precisamos” o articulista não está falando dele e de seus amigos – está falando em por a mão no seu bolso e no meu. O erro, mais uma vez, vem de olhar apenas o imediatamente aparente, sem se preocupar com as causas das coisas.
A fonte da riqueza é a produção. Não existe riqueza que não tenha sido criada por alguém. O grande sonho socialista é de eliminar a pobreza tirando a riqueza dos que a possuem e dando a aos que não a têm. Esta visão apresenta a mesma miopia de Dimenstein: ver a riqueza como algo que simplesmente existe, e pode ser distribuído.
Mas a riqueza precisa ser criada, e criada continuamente pois a consumimos para sobreviver. Ao roubar dos ricos para dar aos pobres toma se dos chamados ricos seus meios de viver e de produzir, para dar aos chamados pobres - sem esforço algum de sua parte – meios para subsistir.
Tanto o homem não pode viver tendo os frutos de seus esforços tomados à força como não pode o homem viver como parasita. A prosperidade é resultado da liberdade para produzir. É por isto que os países que implantaram consistentemente o Socialismo se auto-destruíram, é por isso que os países se atrasam na medida em que se socializam e se desenvolvem na medida que libertam seus cidadãos das correntes do estado.
Ao propor “mecanismos de inclusão” o socialista está propondo destruir a geração de riqueza – tirando dos produtores os meios e os incentivos para continuar produzindo, para erradicar a pobreza. Mais uma vez propondo como solução o exato oposto do que é necessário na realidade.
“Quanto mais se prende (e é isso o que a opinião pública quer), mais vulnerável fica a sociedade --isso porque o PCC se torna ainda mais forte.”
Que o PCC foi formado e é comandado de dentro de presídios é um fato. Que criminosos levados a estes presídios são potenciais membros da organização criminosa também. A conclusão que prender mais criminosos torna o risco ao cidadão maior, no entanto, só procede se olharmos estes dois fatos e ignorarmos todo o resto da realidade.
Um criminoso que vai preso é um criminoso a menos nas ruas, onde ele pode efetivamente causar dano aos cidadãos (note que não me refiro “à sociedade”, a sociedade não pode ser assaltada nem assassinada, eu e você sim). Se após ser preso este criminoso se associa ao PCC, isto não traz risco ao cidadão – o que traz risco são os criminosos fora da cadeia.
Se há criminosos comandando – e até cometendo – crimes de dentro das cadeias, o problema são as cadeias que o permitem e não o fato de que prendemos criminosos. Se criminosos associados ao PCC que fogem das cadeias são perigosos, o problema é que eles fugiram, não que foram presos.
A maior inversão no entanto, tanto mais comum quanto é mais grave, é a que segue:
“Mais importante do que tudo, quando menos conseguimos oferecer mecanismos de inclusão, evitando a marginalidade infanto-juvenil, o que exige práticas muito melhores de políticas públicas, mais difícil será evitar que o PCC tenha adeptos, por uma simples questão da lei da oferta e da procura.”
Esta afirmação tem uma série de premissas implícitas, a serem aceitas implicitamente pelo leitor, e que refletem o pensamento estatista e socialista tão difundido em nosso país.
A primeira premissa implícita, a mais grave e a mais comum, é que pobreza causa criminalidade. Isto é um insulto à razão humana, pois nega a autonomia de cada um para tomar decisões – e decidir fazer o que é certo. É um insulto a todas as pessoas pobres e honestas, pois se a criminalidade é conseqüência da pobreza quem é pobre e honesto só pode ser otário. É um insulto à realidade, pois além dos milhões de pobres honestos temos milhares de ricos criminosos neste país para provar o contrário.
A conseqüência desta premissa errada é que a real causa da criminalidade não é identificada. A real causa da criminalidade é a percepção de impunidade, o fato de que quando uma pessoa decide violar os direitos de outra ela aparentemente não sofre as conseqüências. Ao falhar em identificar esta causa, o articulista propõe que prender mais criminosos aumenta o crime – o exato oposto da realidade.
A segunda premissa implícita é que o governo é capaz de combater a pobreza. Ao dizer “precisamos” o articulista não está falando dele e de seus amigos – está falando em por a mão no seu bolso e no meu. O erro, mais uma vez, vem de olhar apenas o imediatamente aparente, sem se preocupar com as causas das coisas.
A fonte da riqueza é a produção. Não existe riqueza que não tenha sido criada por alguém. O grande sonho socialista é de eliminar a pobreza tirando a riqueza dos que a possuem e dando a aos que não a têm. Esta visão apresenta a mesma miopia de Dimenstein: ver a riqueza como algo que simplesmente existe, e pode ser distribuído.
Mas a riqueza precisa ser criada, e criada continuamente pois a consumimos para sobreviver. Ao roubar dos ricos para dar aos pobres toma se dos chamados ricos seus meios de viver e de produzir, para dar aos chamados pobres - sem esforço algum de sua parte – meios para subsistir.
Tanto o homem não pode viver tendo os frutos de seus esforços tomados à força como não pode o homem viver como parasita. A prosperidade é resultado da liberdade para produzir. É por isto que os países que implantaram consistentemente o Socialismo se auto-destruíram, é por isso que os países se atrasam na medida em que se socializam e se desenvolvem na medida que libertam seus cidadãos das correntes do estado.
Ao propor “mecanismos de inclusão” o socialista está propondo destruir a geração de riqueza – tirando dos produtores os meios e os incentivos para continuar produzindo, para erradicar a pobreza. Mais uma vez propondo como solução o exato oposto do que é necessário na realidade.
04 julho, 2006
A verdade existe?
A Epistemologia estuda o que é conhecimento e como conseguí-lo. As perguntas a serem respondidas, entre outras, são: “O que é conhecimento?”, “O que é verdade?”, “É possível saber se algo é verdade? Como fazê-lo?”.
Uma tese epistemológica precisa ser derivada de uma tese metafísica. Não faz sentido falar em conhecimento sem antes determinar o que existe. As diversas teses epistemológicas, no entanto, raramente deixam clara esta derivação.
Um exemplo de teoria onde esta relação é clara é na filosofia de Immanuel Kant. A metafísica de Kant postula que existe uma realidade “ideal”, à qual não se pode ter acesso, devido à limitação da mente e dos sentidos humanos. O que vemos, sentimos e pensamos – o mundo “real” – seria portanto uma distorção da realidade “ideal”, uma distorção inescapável pois somos nós mesmos que distorcemos a realidade ao percebê-la. A metafísica de Kant, portanto, é a da precedência da consciência: o mundo real, percebido por nós, é moldado por nossa mente.
A Epistemologia que segue este metafísica, evidentemente, é a tese que a verdade é impossível de descobrir, uma vez que a fonte de distorção é a própria mente humana e seus sentidos. Parafraseando uma crítica da filosofia Kantiana, “sou cego porque tenho olhos, sou surdo porque tenho ouvidos, sou louco porque posso pensar”.
Esta teoria é conhecida como Idealismo, por postular a existência de um “ideal” impossível de conhecer, ou como Subjetivismo, por concluir que tudo é subjetivo e a verdade impossível de determinar. As conseqüências desta epistemologia, além da idéia que a real natureza das coisas é impossível de conhecer, são a tese de que cada um tem sua verdade – determinada por suas próprias percepções – e que nenhuma delas é melhor que outras – porque é impossível saber quem está certo.
O Idealismo é a base filosófica do multi-culturalismo (a idéia de que nenhuma cultura é melhor que outra, mesmo que uma mantenha seu povo vivendo nu na floresta por séculos e outra construa aviões, arranha-céus e triplique a expectativa de vida das pessoas) e da tolerância (a idéia que é preciso respeitar a opinião alheia, seja lá qual for – respeitar a opinião em si, e não somente o respeito devido ao ser humano que a defende).
Como mencionado, nem todo sistema epistemológico é desenvolvido com base em uma metafísica explícita. Possivelmente a tese Epistemológica mais conhecida é sintetizada pela famosa frase de René Descartes: “Penso, logo existo”. Esta frase é uma tentativa de resolver uma das maiores dificuldades na Epistemologia: encontrar o ponto de partida que justifica o conhecimento. Se o Subjetivismo descarta a verdade como impossível, o Racionalismo de Descartes tenta desenvolver a Epistemologia a partir do seu famoso axioma.
Ao partir da consciência, Descartes usa implicitamente a metafísica da precedência da consciência. Sua epistemologia é fundada na tese de que a mente possui conteúdo independente da experiência sensorial, que idéias podem ser desenvolvidas pela mente apenas, sem depender dos sentidos (seu axioma seria um exemplo de tal idéia). Embora a epistemologia Cartesiana seja distinta, ela se baseia em uma metafísica muito próxima da Kantiana: não podemos confiar em nossos sentidos para perceber a realidade, precisamos determinar a verdade usando a mente apenas (Kant não confia nem na mente).
Ao negar algo que implicitamente todos sabem que existe e funciona – a eficácia do pensamento humano e da nossa percepção da realidade – estas teorias epistemológicas contribuíram muito para transformar a percepção da filosofia na atual: uma perda de tempo ou um amontoado de conjecturas sem fundamento ou utilidade. As conseqüências destas teses – como o multi-culturalismo, a tolerância, o esoterismo – são, no entanto, aceitas sem resistência.
Outra teoria epistemológica é o Empiricismo. Esta é a idéia que todo conhecimento é fruto da experiência, só é possível saber aquilo que já se experimentou. Esta tese contradiz frontalmente as premissas do Racionalismo – que a mente tem conteúdo independente da percepção e que é possível obter conhecimento usando apenas a introspecção.
Embora a base metafísica do Empiricismo seja racional – que existe uma realidade a ser observada – e que seu conceito básico seja correto – que o conhecimento é adquirido observando a realidade através dos sentidos – esta tese epistemológica deixa uma lacuna importante. É possível saber que existe a Groenlândia sem ir até lá ou observá-la do espaço? O Empiricismo filosófico (para distinguí-lo do empiricismo científico, que é uma parte do método científico) diria que não.
Esta lacuna, levada ao extremo, dá a abertura ao Ceticismo. Esta é a tese de que é impossível saber qualquer coisa pois existe sempre a possibilidade de estar errado. Esta tese difere do Idealismo em que admite a existência da realidade e de que ela é perceptível. No entanto como não podemos garantir que já observamos todos os aspectos possíveis de uma questão, podemos sempre estar errados.
O Ceticismo filosófico (para distinguí-lo do ceticismo saudável, no sentido de não acreditar nas coisas sem evidência) nega a própria causalidade. Não é só porque observamos que a toda ação corresponde uma reação que podemos alegar que sabemos uma lei universal: pode ser só coincidência, talvez amanhã ocorra diferente, talvez haja uma lei ainda mais fundamental que não conhecemos e que pode invalidar a famosa terceira lei de Newton em alguma circunstância. Para o empiricista é impossível saber algo sem testá-lo, para o cético é impossível saber qualquer coisa até saber tudo.
No próximo artigo será apresentada a Epistemologia Objetivista, uma tese racional baseada na metafísica racional e que não contradiz, e sim explica, aquilo que todos nós sabemos – que nossos sentidos são válidos e que o conhecimento é possível.
Uma tese epistemológica precisa ser derivada de uma tese metafísica. Não faz sentido falar em conhecimento sem antes determinar o que existe. As diversas teses epistemológicas, no entanto, raramente deixam clara esta derivação.
Um exemplo de teoria onde esta relação é clara é na filosofia de Immanuel Kant. A metafísica de Kant postula que existe uma realidade “ideal”, à qual não se pode ter acesso, devido à limitação da mente e dos sentidos humanos. O que vemos, sentimos e pensamos – o mundo “real” – seria portanto uma distorção da realidade “ideal”, uma distorção inescapável pois somos nós mesmos que distorcemos a realidade ao percebê-la. A metafísica de Kant, portanto, é a da precedência da consciência: o mundo real, percebido por nós, é moldado por nossa mente.
A Epistemologia que segue este metafísica, evidentemente, é a tese que a verdade é impossível de descobrir, uma vez que a fonte de distorção é a própria mente humana e seus sentidos. Parafraseando uma crítica da filosofia Kantiana, “sou cego porque tenho olhos, sou surdo porque tenho ouvidos, sou louco porque posso pensar”.
Esta teoria é conhecida como Idealismo, por postular a existência de um “ideal” impossível de conhecer, ou como Subjetivismo, por concluir que tudo é subjetivo e a verdade impossível de determinar. As conseqüências desta epistemologia, além da idéia que a real natureza das coisas é impossível de conhecer, são a tese de que cada um tem sua verdade – determinada por suas próprias percepções – e que nenhuma delas é melhor que outras – porque é impossível saber quem está certo.
O Idealismo é a base filosófica do multi-culturalismo (a idéia de que nenhuma cultura é melhor que outra, mesmo que uma mantenha seu povo vivendo nu na floresta por séculos e outra construa aviões, arranha-céus e triplique a expectativa de vida das pessoas) e da tolerância (a idéia que é preciso respeitar a opinião alheia, seja lá qual for – respeitar a opinião em si, e não somente o respeito devido ao ser humano que a defende).
Como mencionado, nem todo sistema epistemológico é desenvolvido com base em uma metafísica explícita. Possivelmente a tese Epistemológica mais conhecida é sintetizada pela famosa frase de René Descartes: “Penso, logo existo”. Esta frase é uma tentativa de resolver uma das maiores dificuldades na Epistemologia: encontrar o ponto de partida que justifica o conhecimento. Se o Subjetivismo descarta a verdade como impossível, o Racionalismo de Descartes tenta desenvolver a Epistemologia a partir do seu famoso axioma.
Ao partir da consciência, Descartes usa implicitamente a metafísica da precedência da consciência. Sua epistemologia é fundada na tese de que a mente possui conteúdo independente da experiência sensorial, que idéias podem ser desenvolvidas pela mente apenas, sem depender dos sentidos (seu axioma seria um exemplo de tal idéia). Embora a epistemologia Cartesiana seja distinta, ela se baseia em uma metafísica muito próxima da Kantiana: não podemos confiar em nossos sentidos para perceber a realidade, precisamos determinar a verdade usando a mente apenas (Kant não confia nem na mente).
Ao negar algo que implicitamente todos sabem que existe e funciona – a eficácia do pensamento humano e da nossa percepção da realidade – estas teorias epistemológicas contribuíram muito para transformar a percepção da filosofia na atual: uma perda de tempo ou um amontoado de conjecturas sem fundamento ou utilidade. As conseqüências destas teses – como o multi-culturalismo, a tolerância, o esoterismo – são, no entanto, aceitas sem resistência.
Outra teoria epistemológica é o Empiricismo. Esta é a idéia que todo conhecimento é fruto da experiência, só é possível saber aquilo que já se experimentou. Esta tese contradiz frontalmente as premissas do Racionalismo – que a mente tem conteúdo independente da percepção e que é possível obter conhecimento usando apenas a introspecção.
Embora a base metafísica do Empiricismo seja racional – que existe uma realidade a ser observada – e que seu conceito básico seja correto – que o conhecimento é adquirido observando a realidade através dos sentidos – esta tese epistemológica deixa uma lacuna importante. É possível saber que existe a Groenlândia sem ir até lá ou observá-la do espaço? O Empiricismo filosófico (para distinguí-lo do empiricismo científico, que é uma parte do método científico) diria que não.
Esta lacuna, levada ao extremo, dá a abertura ao Ceticismo. Esta é a tese de que é impossível saber qualquer coisa pois existe sempre a possibilidade de estar errado. Esta tese difere do Idealismo em que admite a existência da realidade e de que ela é perceptível. No entanto como não podemos garantir que já observamos todos os aspectos possíveis de uma questão, podemos sempre estar errados.
O Ceticismo filosófico (para distinguí-lo do ceticismo saudável, no sentido de não acreditar nas coisas sem evidência) nega a própria causalidade. Não é só porque observamos que a toda ação corresponde uma reação que podemos alegar que sabemos uma lei universal: pode ser só coincidência, talvez amanhã ocorra diferente, talvez haja uma lei ainda mais fundamental que não conhecemos e que pode invalidar a famosa terceira lei de Newton em alguma circunstância. Para o empiricista é impossível saber algo sem testá-lo, para o cético é impossível saber qualquer coisa até saber tudo.
No próximo artigo será apresentada a Epistemologia Objetivista, uma tese racional baseada na metafísica racional e que não contradiz, e sim explica, aquilo que todos nós sabemos – que nossos sentidos são válidos e que o conhecimento é possível.
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