23 julho, 2007

Produtividade em sociedade

Os princípios éticos não são derivados da vida em sociedade, mas são aplicáveis a ela. Já foram abordadas as conseqüências de aplicar à vida em sociedade os princípios da Racionalidade, Independência e Honestidade. O princípio da Produtividade também se aplica à vida em sociedade, com conseqüências importantes para a vida do homem.

Para um indivíduo isolado, o princípio da Produtividade é evidente. Separado da sociedade, fica muito claro que tudo o que ele quiser ter, terá de produzir. Este contexto simplificado permite explorar a aplicação deste princípio, antes de estendê-la ao caso mais complexo.

Se o indivíduo separado da sociedade (recuperemos nosso náufrago já usado como exemplo) quiser ter o que comer, sabe que terá de produzir comida. Se quiser se proteger do clima, sabe que terá de produzir um abrigo. Se quiser estar seguro contra ataques de animais selvagens, sabe que terá de produzir armas e usá-las.

Um dos enganos mais comuns ao pensar sobre a vida humana é a ilusão de que a natureza provê algo ao homem livre de esforço. Mesmo que existam árvores frutíferas espalhadas pela ilha em que se encontra o náufrago – ele tem de encontrá-las, tem de reconhecê-las como fontes de alimento, tem de colher seus frutos para se alimentar deles.

Mesmo que o náufrago se abrigue em uma caverna – que ele não construiu – ele teve de encontrá-la e reconhecê-la como um abrigo. A natureza não provê nada ao homem, o homem precisa pensar e agir para tornar o que existe na natureza útil para sua vida.

Vamos estender agora nosso exemplo. Imaginemos que após um acidente há dois sobreviventes, que acabam de lados opostos de uma ilha deserta. Imaginemos que um deles é um atleta, o outro sedentário. Imaginemos ainda que a boa comida se encontra no topo das árvores.

Enquanto não se encontram, o náufrago sedentário tem extrema dificuldade em conseguir comida boa, tendo que subsistir apenas no que consegue coletar no chão. O atleta descobre que há boa comida no alto, e sobe nas árvores para coletá-la.

Nestas condições poucos contestariam a diferença na qualidade de vida dos sobreviventes: é conseqüência da diferença entre suas capacidades, neste caso, físicas. No entanto, caso eles se encontrassem, a maioria condenaria o atleta caso ele não aceitasse alimentar o sedentário com a comida melhor que é capaz de obter.

Há três observações importantes a serem feitas com base nesse exemplo:

Primeiro, do ponto de vista do atleta ter companhia na ilha deserta é um tremendo valor – ter com quem conversar, ter mais um cérebro e mais um par de mãos (mesmo que não tão capazes quanto as suas) disponíveis para enfrentar os desafios da sobrevivência são valores inquestionáveis. Com certeza seria do interesse do atleta contribuir para a sobrevivência do sedentário, neste caso ajudando o a obter comida. Não é preciso um mandamento para que ele perceba este valor.

Segundo, mesmo que o atleta decida dar alimento ao sedentário, isto não muda a realidade de que todo o valor que existe para a vida humana é criado pelo homem. Embora exista alguém sobrevivendo sem fazer esforço (por ter sua comida produzida por outro), há alguém fazendo o esforço necessário.

Esta realidade explica algumas possíveis conseqüências da situação que imaginamos. É natural que o atleta espere que o sedentário se exercite, para que possa se tornar capaz de sustentar-se. Se o sedentário se acomodar, tendo sua alimentação provida pelo atleta, é natural que este espere algo em troca – que o sedentário faça algo por ele, de valor semelhante, dentro de suas capacidades. O atleta reconhece o princípio da Produtividade, reconhece que ninguém tem "direito" a ter suas necessidades supridas a troco de nada, porque as coisas que suprem necessidades nunca surgem sem esforço.

Terceiro, limitamos o cenário imaginado a uma disparidade de capacidade física. Na realidade, a capacidade mental afeta muito mais a prosperidade humana. O sedentário, se mais inteligente, poderia ter deduzido a existência da comida melhor pelos restos encontrados no chão e descoberto uma maneira de derrubar a comida ou as próprias árvores – dentro de suas capacidades físicas. O atleta, se menos inteligente, poderia nunca ter encontrado a comida melhor no topo das árvores. A capacidade física só produz prosperidade até o limite da capacidade mental.

Aplicar o princípio da Produtividade à convivência humana significa perceber que se alguém quer viver, precisa produzir – a simples proximidade de outros não os torna obrigados sustentá-lo a troco de nada. Significa identificar que, mesmo em sociedade, tudo o que existe e é valioso para a vida do homem (o que chamamos de riqueza) é produzido pelo esforço do homem. Significa também reconhecer que os valores que cada um produz são determinados pela sua capacidade e vontade de fazê-lo.

O princípio da Produtividade, derivado claramente da natureza humana e de fatos simples sobre a realidade, desbanca uma das mais abraçadas e ferozmente defendidas idéias da atualidade: a "Justiça Social", ou a idéia de que a desigualdade de riqueza é, de alguma forma, injusta. Esta tese se fundamenta na idéia equivocada de que a natureza dá algo ao homem de graça, e que cada um tem direito "à sua parte".

Na realidade toda riqueza tem de ser produzida. Como a capacidade e vontade de produzir diferem entre as pessoas, é mera conseqüência dos fatos da realidade que haja desigualdade de riqueza. É justo que haja desigualdade de riqueza. A chamada "Justiça Social" é uma injustiça real, por desassociar as ações das pessoas das conseqüências delas. A conseqüência de produzir é ter. A conseqüência de não produzir é não ter. Fazer "Justiça Social" é fazer ter aquele que não produz, fazendo não ter aquele que produziu.

Viver seguindo o princípio da Produtividade significa produzir pelo próprio esforço a riqueza necessária e desejada para a própria vida. Não significa produzir pessoalmente tudo o que se usa – a vida em sociedade permite produzir muito mais riqueza por permitir a especialização e a troca. A especialização leva o indivíduo a produzir mais, com o mesmo esforço. A troca permite ao especialista trocar sua produção expandida de um bem pela variedade de bens que realmente precisa ou deseja.

Ser produtivo em sociedade significa produzir valor pelo próprio esforço obtendo as coisas que se necessita ou deseja pelo próprio trabalho e pela troca voluntária. É não esperar que outros o sustentem nem sentir-se obrigado a sustentar outros em detrimento da própria felicidade.