05 novembro, 2008

Obama 2008

Obama, como Lula, se elegeu prometendo maravilhas sem explicar o que exatamente pretende fazer para alcançá-las. Como Lula a figura de Obama carrega certo messianismo. Nunca antes na história daquele país... um monte de coisas. Como bem colocou Reinaldo Azevedo, tudo o que Obama faz já é histórico antes mesmo de ser feito. Como Lula.

Gente bem intencionada vê na eleição de Obama a oportunidade de exorcizar o racialismo que impera nos Estados Unidos, tal qual há seis anos pessoas de bem no Brasil achavam que eleger um ex-torneiro mecânico ignorante exorcizaria no Brasil a divisão entre ricos e pobres.

A tese é tão errada lá como foi aqui, logo Obama estará sendo acusado pelos racialistas de ter se vendido aos interesses dos poderosos, tal como acusam Lula os setores da esquerda que se mantiveram fiéis ao discurso tradicional do PT.

Cultura americana
O apoio massivo à plataforma de Obama com suas promessas de “mudança”, sem dizer o que será mudado nem como, mostra outro paralelo preocupante com o Brasil. Aqui por tradição e história a disputa política se dá em torno de idéias e ideais totalmente desconexos da realidade prática, lá não costumava ser assim.

Mais que isso, eleger um salvador da pátria indica que o povo americano aos poucos está passando a ver o governo como a solução para suas dificuldades e problemas individuais, invertendo a máxima correta de Ronald Reagan "Government is not a solution to our problem, government is the problem".

Os princípios
A frase de Reagan permanece verdadeira hoje, como foi quando ele a proferiu, no entanto nem o próprio Reagan nem os governos republicanos desde então reduziram de fato o tamanho do governo americano e seus tentáculos na economia.

O fracasso da economia dirigida pelo FED e por milhares de agências reguladoras, no entanto, não é reconhecido como o fracasso da intervenção governamental. Pelo contrário – acusa-se o livre mercado pelo fracasso de um mercado que não é livre.

A solução de Obama é o aumento da regulamentação governamental e da intensificação da manipulação governamental da moeda. Para quem já leu Ludwig von Mises, uma receita óbvia para um novo ciclo de bolha e crise mais intenso que o anterior.

É preciso reconhecer Obama pelo que é. Um homem que acredita que a prosperidade vem da direção governamental da economia. Um homem que acredita que é função do governo redistribuir riqueza buscando a igualdade material. Um homem que acredita que o direito de propriedade está subordinado à sua visão do bem comum. Obama é um esquerdista.

Como os Estados Unidos da América foram fundados sobre o princípio da liberdade individual associada à responsabilidade individual, Obama é anti-americano. Isto é o que explica a grande festa internacional comemorando sua vitória. “Finalmente os americanos elegeram um de nós” pensam os demais líderes mundiais – todos eles compartilhando dos princípios que listei no parágrafo anterior.

Mas isto é bom para alguém?

A economia
O Partido Democrata americano atualmente compartilha dos princípios fundamentais da esquerda mundial. Embora fuja da palavra que descreve verdadeiramente o que defende (e que seus partidários tenham a cara de pau de chamarem-se de “liberais”), o Partido Democrata é hoje o Partido Socialista dos Estados Unidos.

Um governo socialista nunca vai aceitar o fato de que é a interferência governamental no mercado de crédito que gerou a atual crise. Como anti-capitalistas que são, culparão a ganância dos banqueiros, empresários e investidores e os punirão com taxas e regulamentação.

Um governo socialista aumentará os impostos sobre os que julga ricos, não apenas para aumentar a arrecadação, mas simplesmente para tirar riqueza de uns para dar a outros como pregou o próprio Obama em campanha. Isto ataca a base da prosperidade, pois são estas pessoas que se arriscam em novos negócios – sem a perspectiva de grandes ganhos, não haverá grandes empreendedores.

Um governo socialista rodeado de economistas Keynesianos nunca irá cortar o gasto governamental, pelo contrário irá aumentá-lo ainda mais. A emissão de moeda necessária para manter o circo sem enormes aumentos de impostos ameaçará destruir o dólar.

Um governo socialista tomará medidas para dar mais poder aos sindicatos (em decadência nos EUA há décadas). O Partido Democrata já tem uma proposta de tornar as votações para formação de sindicatos abertas – submetendo o trabalhador à pressão e ameaças dos sindicalistas. Um aumento da quantidade de empresas reféns de sindicatos aumentará o ímpeto da expatriação de empregos.

Um governo socialista nunca reconhecerá que a fuga de capitais é causada por sua política financeira e que a fuga de empregos é causada por sua política trabalhista. Pelo contrário, acusará países estrangeiros de concorrência desleal e os castigará com aumentos de tarifas de importação.

O que Adam Smith identificou no século 18, no entanto, continua sendo verdade: barreiras comerciais prejudicam principalmente quem as cria. Ao diminuir as correntes de comércio internacional o governo americano estará repetindo exatamente a medida que precipitou o crash de 1929 e iniciou a grande depressão do século 20 (Smoot-Hawley tariff act).

A América e o mundo
O cenário que estas tendências indicam não é nada que mereça ser comemorado ao redor do mundo. Uma América isolacionista, protecionista e socialista é, na verdade, a semente de uma catástrofe econômica mundial.

A França pode ser socialista e estagnar em paz. A Alemanha pode ser socialista e estagnar em paz. A Inglaterra pode ser socialista e estagnar em paz. Os países nórdicos podem ser socialistas e estagnar em paz. O Brasil pode ser socialista e estagnar em paz.

O socialismo nos Estados Unidos, provocando lá a estagnação que é normal nos outros países que o praticam, puxará o tapete de todos. A estagnação social-democrata da Europa e do Brasil só é estável por causa do constante e imenso (em valores absolutos, não apenas relativos) crescimento da economia americana.

Ironicamente, sobrará a China, uma ditadura supostamente comunista, como locomotiva da prosperidade mundial – exatamente por praticar, em grande parte, aquilo que os fundadores do Capitalismo e das liberdades individuais hoje repudiam: imposto baixo, regulamentação zero e nenhuma caridade governamental. A dúvida é se a prosperidade da China é capaz de perdurar mesmo com o neo-protecionismo americano que está por vir.

Tal como no Brasil de Lula, a prosperidade no mundo depende agora de que Obama faça o contrário do que seu partido prega. É esperar para ver.