27 novembro, 2008

Por que as automotivas?

Um colega comentou em uma discussão estar surpreso e preocupado com a situação das três grandes montadoras americanas (GM, Ford, Chrysler). Que bancos e financeiras fossem afetados pela crise financeira era esperado. Mas indústrias que fabricam um produto real, tão básico nos dias de hoje?

Para entender porque a indústria automobilística foi a segunda indústria da chamada economia real a ser afetada nos Estados Unidos (depois da construção civil), é importante considerar os seguintes fatores:

1. A casa e o carro são os bens de maior valor que a maioria das pessoas possui e a maioria das pessoas usa crédito para comprá-los. Poderiam economizar dinheiro antes de comprar, mas pouca gente faz isso.

Quando o financiamento fica caro demais, em vez de trocarem o carro logo que terminam de pagar as parcelas do carro atual (ou antes!), as pessoas são obrigadas a juntar dinheiro para depois comprar o próximo carro. O fim do crédito barato, devido à crise financeira, cria um buraco nas vendas.

2. A desalavancagem dos mercados financeiros reduziu significativamente o volume de dinheiro em circulação. Empréstimos multiplicam a base financeira (explicações aqui e em vídeo), quando eles entram em default este dinheiro extra some. Isto leva a uma situação onde há menos dinheiro girando para o mesmo volume de bens a serem comercializados e a conseqüência disto é uma queda generalizada de preços.

Mas tem um preço safado que não cai: os salários. Em muitos países reduzir salário é proibido por lei. Em quase todos é muito difícil, pelo poder que os governos conferem aos sindicatos. A redução generalizada de preços, portanto, compromete todas as empresas. Apesar da matéria prima também cair de preço, os salários não acompanham resto do mercado.

Para piorar as coisas, as montadoras americanas GM, Ford e Chrysler já tinham uma posição competitiva fraquíssima perante Honda, Toyota, BMW, Porsche e outras. Esta fraqueza se devia fundamentalmente ao fato de o sindicato dos trabalhadores da indústria automotiva americana (UAW – United Auto Workers) ser extremamente poderoso – com influência maciça no Congresso americano através do partido Democrata.

Ao longo do tempo, passaram-se leis dificultando ou proibindo a importação de carros e peças, a maioria delas usando o ambientalismo como desculpa. Dificultou-se ou proibiu-se o outsourcing, supostamente para proteger os empregos de americanos. Garantiu-se cada vez mais regalias aos trabalhadores sindicalizados e deu-se poderes ao sindicato que permitem chantagear as empresas das mais diversas formas – supostamente para evitar que o trabalhador fosse explorado pelos empresários malvados.

O resultado de décadas desta interferência política no mercado de trabalho foi que as três grandes empresas automotivas americanas operam hoje com um custo de 1500 a 2000 dólares a mais por carro só em benefícios trabalhistas, sem contar salários. Ou seja, os metalúrgicos automotivos americanos ganham salários e benefícios muito acima do mercado.

Não é surpresa, portanto, que estas empresas que já estavam no limite da competitividade, dependem da disponibilidade de crédito para manter o nível de vendas e têm uma posição extremamente inflexível para alterar salários tenham rapidamente sucumbido à crise financeira.

O mais grotesco foi ver os próprios congressistas democratas que amarraram, sangraram e deixaram a indústria automotiva de joelhos perante os sindicatos dando lição de moral nos CEO: pobres idiotas que aceitaram a tarefa de tentar fazer estas empresas darem lucro nessas condições.

Aliás, a crise financeira também é fruto do que se faz em Washington – o que também não impede os próprios congressistas que exigiram décadas de inflação do dólar, déficits governamentais e financiamentos habitacionais para gente que não os pode pagar de interrogarem os presidentes do FED: pobres idiotas que aceitam a tarefa de produzir riqueza imprimindo dinheiro.

15 novembro, 2008

12 novembro, 2008

Nelson Ascher sobre EUA e terroristas

O Reinaldo Azevedo publicou em seu blog um texto do jornalista Nelson Ascher a respeito da controvérsia sobre Guantánamo e os prisioneiros da chamada guerra contra o terror. O texto é simplesmente impecável.

Como o blog do Reinaldo está com problemas técnicos que impedem criar um link direto para o texto, reproduzo aqui a íntegra.

TAL TERROR, QUAL LEGALIDADE?
Nelson Ascher via Reinaldo Azevedo

O problema de julgar terroristas nos Estados Unidos não se resume apenas à possibilidade de ter de soltá-los devido a uma "tecnicalidade": certas provas, por exemplo, não poderiam ser usadas para não pôr em risco toda uma operação de contra-espionagem ou a vida de alguém infiltrado num grupo terrorista, digamos. Há também o problema de onde soltá-los. Afinal, quem são eles? Estrangeiros capturados em meio a uma guerra em solo estrangeiro, não necessariamente deles. Pode ser um marroquino, um sírio ou um egípcio que cometeu um atentado na Jordânia, mas foi pego lutando contra americanos ou iraquianos ou afegãos no Iraque ou Afeganistão. Julgá-lo nos EUA? Mas como, se o sujeito não é cidadão americano, não está submetido à legislação comum americana e estava lutando (em nome de quem?, por qual país?, onde?) longe dos EUA?

Europeus e ONGs em geral protestariam se um terrorista egípcio que foi capturado no Afeganistão, mas era procurado em seu próprio país, fosse deportado para o Cairo, pois, lá, ele correria o risco de ser torturado e, possivelmente, executado. É por isso que os países europeus — que não deram refúgio às centenas de milhares de tutsis exterminados em Ruanda — dão, sim, asilo aos carrascos hutus que tenham conseguido chegar ao continente e não os devolvem ao país natal para serem julgados. Trocando em miúdos: na Europa, é mais seguro ser um hutu "genocidário" do que uma possível vítima tutsi.

Ora, o terrorista não-americano julgado e solto nos EUA seria recompensado não apenas com a liberdade, mas com um dos bens mais cobiçados no mundo: o direito de residir ali. Há pessoas honestas que esperam anos para conseguir um visto, e há pessoas ousadas que arriscam a vida para entrar ilegalmente nos EUA. O melhor método, porém, é viajar para o Afeganistão ou Iraque, matar soldados americanos ou afegãos e/ou iraquianos, ser capturado pelos ianques e solto em Nova York. Este, sim, é que é o prêmio — ou seja, o terror compensa.

Agora, quanto às convenções de Genebra, elas, que eu saiba, têm um caráter contratual. Para serem respeitadas, é preciso, em primeiro lugar, que ambos os lados do conflito sejam signatários e, em segundo, que ambos respeitem suas cláusulas. Se a Al Qaeda não é nem signatária da Convenção de Genebra nem trata seus prisioneiros de acordo com o que ela estipula, não há razão para que aqueles que se envolvem num conflito com a organização tratem diferentemente seus membros. A idéia de um contrato assim é, aliás, exatamente esta: os prisioneiros de guerra são reféns de cada lado de um conflito, e, portanto, para que os prisioneiros de um dos partidos sejam bem-tratados, é necessário que este trate bem os do adversário.

Durante a Segunda Guerra, os aliados ocidentais e a Alemanha nazista observaram mais ou menos escrupulosamente essa precondições de reciprocidade e, em conseqüência disso, anglo-americanos capturados pelos alemães e vice-versa sobreviveram à conflagração. Tal não sucedeu na frente oriental, de modo que a maior parte dos prisioneiros russos dos alemães e alemães dos russos pereceu — e foram, literalmente, milhões. A questão é: como a Al Qaeda (ou, o que dá na mesma, a tal da pseudo-resistência iraquiana) trata os prisioneiros que faz? Ela os tortura e decapita diante das câmaras e, depois, põe o vídeo para circular, como propaganda de recrutamento, na Internet.

O fato é que não há nenhuma lei que obrigue os americanos a tratar terroristas internacionais como prisioneiros normais de guerra ou como criminosos norte-americanos comuns. E, como não existe uma jurisdição universal aceita por todos os países e por todos os grupos irregulares do mundo, a coisa se torna, no mínimo, complexa. Mas, mesmo que os americanos tratassem os membros da Al Qaeda como prisioneiros de guerra, os EUA teriam o direito a mantê-los em cativeiro, para que não voltem ao campo de batalha, até o fim oficial do conflito — quer dizer, até a Al Qaeda ou os EUA se renderem.

Por outro lado, os membros de grupos assim podem ser tratados como criminosos de guerra. Se um soldado alemão se infiltrava disfarçado com um uniforme inglês, digamos, ou trajes civis atrás das linhas inimigas, os britânicos tinham o direito de fuzilá-lo como espião ou sabotador. Parece que muita gente ignora o fato de que existem leis e costumes de guerra cuja função, em última instância, é sublinhar claramente a distinção entre combatentes e civis, de modo a proteger, na medida do possível, estes últimos.

Terroristas são combatentes que se fazem passar por civis e, para todos os efeitos, escondem-se atrás ou entre estes, levando o conflito para o meio deles. Quando o Hamas dispara mísseis de bairros residenciais, ou o Hizbollah faz o mesmo, são eles que, em condições de normalidade e raciocínio humanista, deveriam ser considerados os responsáveis pelos danos causados aos civis palestinos ou libaneses. Se uma igreja ou mesquita ou hospital é usado por franco-atiradores, esses locais se despem de seus direitos à neutralidade, e o mesmo ocorre com uma ambulância usada para transportar munição.

Em resumo, como você diz, os terroristas usam os mecanismos da democracia contra ela. De forma idêntica, usam as leis e normas da guerra que a civilização desenvolveu (para restringir a amplitude dos conflitos e defender civis) seja contra a própria civilização, seja contra qualquer civil. Premiá-los por perpetrarem barbaridades semelhantes é suicida. Mas teremos que amargar, no mínimo, um novo 11 de Setembro revisto e ampliado para nos lembrarmos disso.


Nelson Ascher

07 novembro, 2008

Reinaldo Azevedo: "O País dos Petralhas"

O País dos Petralhas não é sobre Reinaldo Azevedo, mas o homem transparece na obra. Ao explicar sua motivação e estilo aparece um intelectual honesto e sem ilusões:

“Escrevo o que escrevo porque acho ser o certo. Tenho, sei disso, um estilo um tanto amistoso no trato da língua, mas um pouco hostil nos argumentos. Não escrevo para ganhar adeptos. Quem discorda tende a se sentir agredido; quem concorda vê-se um tanto vingado, e os moderados se assustam um pouco.”

Aparecem também detalhes menores que, aliás, deviam me fazer detestá-lo (ou vice-versa). Reinaldo não gosta de comida japonesa. Eu adoro. Reinaldo não gosta do U2. Eu acho a música deles muito boa. Reinaldo não gosta de pão com gergelim. Eu acho parte essencial do BigMac. Reinaldo não gosta de avião. Eu sou engenheiro aeronáutico – e trabalho com segurança de vôo!

Mas no essencial O País dos Petralhas é sobre algo que deveria aproximar as pessoas mais diferentes nos detalhes – desde que amantes da liberdade. É uma crítica tão contundente quanto é divertida às diversas faces do mal que castiga o Brasil: a idéia que qualquer coisa é válida se for feita para o bem da maioria.

A metralhadora giratória, carregada por vezes com fina ironia, por vezes com puro deboche, atinge de intelectuais que pretendem nos proteger de nossa própria burrice através da censura à vasta máquina partidária do PT que pratica rigorosamente tudo o que recriminava nos outros partidos – em maior grau e com menos vergonha.

Reinaldo cria neologismos que destilam sua crítica em uma única expressão. Esquerdopata é o intelectual de esquerda que, incapaz de convencer, recorre à força policial para calar seus opositores. Petralha é o petista que não vê problema em passar a mão no dinheiro dos outros para fortalecer o partido, já que o PT é a força do bem e da justiça por definição.

Dualética é a perturbada construção moral de esquerdopatas, cuequeiros e demais petralhas, onde vale uma moral para eles, defensores do bem e da verdade licenciados de restrições como não mentir ou não roubar, e outra que vale para nós, os outros, cujo mínimo deslize é justificativa para sermos execrados.

Contrapondo este neo-Maquiavelismo, Reinaldo oferece uma definição alternativa do que é o bem:

“Ah, mas o que é o bem?”, pergunta o demônio do relativismo. Para nossos propósitos, chamemo-lo de um pacto que garanta os direitos individuais e que estabeleça normas gerais de conduta que concorram para a liberdade.”

Além do princípio, O País dos Petralhas critica também um método. O método de usar a liberdade para destruir a liberdade. Seja o uso das eleições para conquistar o poder e uma vez empossado, acabar com o governo representativo (by Evo Morales, Hugo Chavez, Adolf Hitler et alia) ou o patrulhamento ideológico através de abaixo assinados, processos judiciais ou “manifestações espontâneas” contra gente que ousa proferir verdades inconvenientes.

O método que Reinaldo contrapõe é o regime democrático, como instituído nos países ocidentais ao longo dos últimos dois séculos. Um regime onde toda discordância é permitida – exceto naquilo que garante a liberdade de discordar. Sobre o multiculturalismo, dispara:

“Trata-se de um curioso pluralismo evidentemente: todas as culturas estão em princípio certas e válidas, menos essa nossa, [a única] que lhes garante a liberdade de dizer que estamos todos errados.”

Faço aqui uma crítica que não é crítica. Reinaldo apresenta a democracia como fim em si, como garantia suficiente da liberdade individual. “Nunca houve uma democracia socialista”, afirma. A carga de significado que ele atribui à palavra democracia excede em muito seu significado estrito.

O governo pela vontade da maioria, a democracia em seu sentido estrito, é completamente compatível com o socialismo, com a tirania. Ausente uma cultura profunda de responsabilidade individual a democracia tende ao socialismo porque, seres humanos sendo desiguais, sempre haverá uma minoria mais próspera que a média e uma maioria disposta a explorá-la.

Mas não é puro majority rule que Reinaldo Azevedo quer dizer quando diz democracia. É uma democracia limitada, onde a liberdade individual está fora do alcance mesmo da maioria. Em suas palavras “Ou todos são iguais perante a lei ou se está fraudando o regime democrático.”

Se a democracia é o método que contrapõe o petralhismo, a inviolabilidade dos direitos individuais é o princípio que contrapõe o “vale tudo em nome do bem comum”. Acho que esta clareza faria bem aos textos. Ninguém pode honestamente questionar que nunca houve socialismo respeitador dos direitos individuais, afinal a premissa do socialismo é invalidar o direito de propriedade.

Se este ponto está menos claro do que poderia ser, não compromete a mensagem – que capturo aqui em três citações, uma do próprio Reinaldo e outras duas que ele faz no livro:

“Queria um governo sobre o qual não desse vontade de falar nada. Governos devem servir apenas para a gente olhar o poente em paz.”
Reinaldo Azevedo

“The difference between a welfare state and a totalitarian state is a matter of time.” [1]
Ayn Rand

"There is only one cure for the evils which newly acquired freedom produces, and that cure is freedom.” [2]
Lord Macaulay*


A liberdade individual está acima da vontade da maioria. É sobre este princípio que se construiu a sociedade ocidental que, como diz Reinaldo, nos deu papel higiênico, luz elétrica e geladeira. O País dos Petralhas é, portanto, um golpe em favor da civilização na longa batalha contra a barbárie.

[1]"A diferença entre um estado benfeitor e um estado totalitário é uma questão de tempo"

[2]"Há uma única cura para os males da liberdade recém conquistada: a liberdade"

* Reinaldo parafraseia esta citação (“os males da liberdade de imprensa se combatem com mais liberdade de imprensa”), que atribui a Alexis de Tocqueville.

Socialismo ilustrado

Não consegui ler na figura o site do autor original para creditar, mas a charge é excelente:

06 novembro, 2008

Entendendo a crise: o ciclo vicioso

The People order, spur, nudge, encourage, politicians to go out and play with the market. The Politicians do. They fiddle, tweak, castrate, pick wings off, etc….and eventually things go terribly wrong. A catastrophe ensues. The People get very angry. They shout and tell the Politicians to fix the mess. "It's your job to fix this!". The Politicians in turn, like three-year olds charged to put grandmas set of crystal glasses back into the cupboard, go busily about their business, hauling over-sized delicate objects above their heads, struggling to hang on to several heavy and mis-shaped precious items. This is the world we live in.

- Pietro Poggi-Corradini (matemático)

O Povo ordena, alfineta, cutuca, encoraja os políticos a brincarem com a economia. Os Políticos brincam. Eles experimentam, ajustam, regulamentam, etc... até que as coisas dão terrivelmente errado. Uma catástrofe segue. O Povo fica muito bravo. Eles gritam e mandam os Políticos arrumarem a bagunça. "É sua função consertar isto!". Os Políticos, por sua vez, seguem diligentes em seu trabalho, como crianças de três anos de idade encarregadas de arrumar a cristaleira da vovó, erguendo objetos grandes e frágeis sobre suas cabeças, se esforçando para segurar ao mesmo tempo diversos preciosos itens pesados e desengonçados. Este é o mundo em que vivemos.

Tradução: Pedro Carleial

05 novembro, 2008

Obama, o anti-americano

Não que McCain fosse muito melhor...

Este artigo, de um juiz americano, explica como tanto um quanto o outro são inimigos daqueles princípios sobre os quais a América foi fundada, e que a tornaram o que ela é hoje:

Most Presidents Ignore the Constitution, por Andrew P. Napolitano.

Obama 2008

Obama, como Lula, se elegeu prometendo maravilhas sem explicar o que exatamente pretende fazer para alcançá-las. Como Lula a figura de Obama carrega certo messianismo. Nunca antes na história daquele país... um monte de coisas. Como bem colocou Reinaldo Azevedo, tudo o que Obama faz já é histórico antes mesmo de ser feito. Como Lula.

Gente bem intencionada vê na eleição de Obama a oportunidade de exorcizar o racialismo que impera nos Estados Unidos, tal qual há seis anos pessoas de bem no Brasil achavam que eleger um ex-torneiro mecânico ignorante exorcizaria no Brasil a divisão entre ricos e pobres.

A tese é tão errada lá como foi aqui, logo Obama estará sendo acusado pelos racialistas de ter se vendido aos interesses dos poderosos, tal como acusam Lula os setores da esquerda que se mantiveram fiéis ao discurso tradicional do PT.

Cultura americana
O apoio massivo à plataforma de Obama com suas promessas de “mudança”, sem dizer o que será mudado nem como, mostra outro paralelo preocupante com o Brasil. Aqui por tradição e história a disputa política se dá em torno de idéias e ideais totalmente desconexos da realidade prática, lá não costumava ser assim.

Mais que isso, eleger um salvador da pátria indica que o povo americano aos poucos está passando a ver o governo como a solução para suas dificuldades e problemas individuais, invertendo a máxima correta de Ronald Reagan "Government is not a solution to our problem, government is the problem".

Os princípios
A frase de Reagan permanece verdadeira hoje, como foi quando ele a proferiu, no entanto nem o próprio Reagan nem os governos republicanos desde então reduziram de fato o tamanho do governo americano e seus tentáculos na economia.

O fracasso da economia dirigida pelo FED e por milhares de agências reguladoras, no entanto, não é reconhecido como o fracasso da intervenção governamental. Pelo contrário – acusa-se o livre mercado pelo fracasso de um mercado que não é livre.

A solução de Obama é o aumento da regulamentação governamental e da intensificação da manipulação governamental da moeda. Para quem já leu Ludwig von Mises, uma receita óbvia para um novo ciclo de bolha e crise mais intenso que o anterior.

É preciso reconhecer Obama pelo que é. Um homem que acredita que a prosperidade vem da direção governamental da economia. Um homem que acredita que é função do governo redistribuir riqueza buscando a igualdade material. Um homem que acredita que o direito de propriedade está subordinado à sua visão do bem comum. Obama é um esquerdista.

Como os Estados Unidos da América foram fundados sobre o princípio da liberdade individual associada à responsabilidade individual, Obama é anti-americano. Isto é o que explica a grande festa internacional comemorando sua vitória. “Finalmente os americanos elegeram um de nós” pensam os demais líderes mundiais – todos eles compartilhando dos princípios que listei no parágrafo anterior.

Mas isto é bom para alguém?

A economia
O Partido Democrata americano atualmente compartilha dos princípios fundamentais da esquerda mundial. Embora fuja da palavra que descreve verdadeiramente o que defende (e que seus partidários tenham a cara de pau de chamarem-se de “liberais”), o Partido Democrata é hoje o Partido Socialista dos Estados Unidos.

Um governo socialista nunca vai aceitar o fato de que é a interferência governamental no mercado de crédito que gerou a atual crise. Como anti-capitalistas que são, culparão a ganância dos banqueiros, empresários e investidores e os punirão com taxas e regulamentação.

Um governo socialista aumentará os impostos sobre os que julga ricos, não apenas para aumentar a arrecadação, mas simplesmente para tirar riqueza de uns para dar a outros como pregou o próprio Obama em campanha. Isto ataca a base da prosperidade, pois são estas pessoas que se arriscam em novos negócios – sem a perspectiva de grandes ganhos, não haverá grandes empreendedores.

Um governo socialista rodeado de economistas Keynesianos nunca irá cortar o gasto governamental, pelo contrário irá aumentá-lo ainda mais. A emissão de moeda necessária para manter o circo sem enormes aumentos de impostos ameaçará destruir o dólar.

Um governo socialista tomará medidas para dar mais poder aos sindicatos (em decadência nos EUA há décadas). O Partido Democrata já tem uma proposta de tornar as votações para formação de sindicatos abertas – submetendo o trabalhador à pressão e ameaças dos sindicalistas. Um aumento da quantidade de empresas reféns de sindicatos aumentará o ímpeto da expatriação de empregos.

Um governo socialista nunca reconhecerá que a fuga de capitais é causada por sua política financeira e que a fuga de empregos é causada por sua política trabalhista. Pelo contrário, acusará países estrangeiros de concorrência desleal e os castigará com aumentos de tarifas de importação.

O que Adam Smith identificou no século 18, no entanto, continua sendo verdade: barreiras comerciais prejudicam principalmente quem as cria. Ao diminuir as correntes de comércio internacional o governo americano estará repetindo exatamente a medida que precipitou o crash de 1929 e iniciou a grande depressão do século 20 (Smoot-Hawley tariff act).

A América e o mundo
O cenário que estas tendências indicam não é nada que mereça ser comemorado ao redor do mundo. Uma América isolacionista, protecionista e socialista é, na verdade, a semente de uma catástrofe econômica mundial.

A França pode ser socialista e estagnar em paz. A Alemanha pode ser socialista e estagnar em paz. A Inglaterra pode ser socialista e estagnar em paz. Os países nórdicos podem ser socialistas e estagnar em paz. O Brasil pode ser socialista e estagnar em paz.

O socialismo nos Estados Unidos, provocando lá a estagnação que é normal nos outros países que o praticam, puxará o tapete de todos. A estagnação social-democrata da Europa e do Brasil só é estável por causa do constante e imenso (em valores absolutos, não apenas relativos) crescimento da economia americana.

Ironicamente, sobrará a China, uma ditadura supostamente comunista, como locomotiva da prosperidade mundial – exatamente por praticar, em grande parte, aquilo que os fundadores do Capitalismo e das liberdades individuais hoje repudiam: imposto baixo, regulamentação zero e nenhuma caridade governamental. A dúvida é se a prosperidade da China é capaz de perdurar mesmo com o neo-protecionismo americano que está por vir.

Tal como no Brasil de Lula, a prosperidade no mundo depende agora de que Obama faça o contrário do que seu partido prega. É esperar para ver.