A figura, convenientemente, apresenta à esquerda a condição que se tem quando o governo segue o ideário “de esquerda”. Reciprocamente, à direita da figura estão as condições típicas de regimes “de direita”.
Como visto em “Comunismo” e “Teocracia”, os extremos destas posições são respectivamente a escravidão econômica com liberdade pessoal plena e plena liberdade econômica com total opressão pessoal.
Este espectro político deixa muito clara uma verdade simples: a disputa entre direita e esquerda não é uma disputa entre o bem e o mal (nem entre o mal e o bem). É uma disputa entre o mal e o mal.
Tanto esquerdistas quanto direitistas querem usar o governo para controlar os indivíduos. Ayn Rand foi muito sagaz ao observar que cada qual faz questão de escravizar o indivíduo apenas na esfera que julga importante.
O esquerdista não se importa com seu comportamento, sua alma ou o que você faz entre quatro paredes. Mas seu trabalho e a riqueza que você produz – isto ele faz questão de controlar. Admita ou não, o esquerdista é um materialista. Ele só se importa realmente com dinheiro.
O direitista ou conservador, como prega o cristianismo, considera “este mundo” algo temporário e sem importância ante a “vida eterna”. Como “daqui não se leva nada”, ele não se importa com sua riqueza material.
Mas o direitista faz questão de interferir quando o assunto é com quem você faz sexo ou se você resolve que não quer ter um filho. Estas coisas, afinal, podem te mandar para o inferno. Admita ou não, o direitista é um místico. As posições que ele defende com tanta convicção são baseadas em nada além de dogma.
Ser escravizado por gente obcecada com o dinheiro (dos outros, é claro) ou ser o rebanho de gente que exige que nos comportemos como eles querem? Não é de surpreender que as pessoas considerem política algo inerentemente asqueroso, afinal as alternativas que se oferecem são a tirania ou a tirania!
O pior talvez sejam aqueles que tentam conciliar o mal com o mal. O esquerdista ao menos defende a liberdade pessoal. O direitista ao menos defende a liberdade econômica. O “centrista”, no entanto, é a favor de opressão tanto na vida pessoal como na econômica! Fundamentalmente é um totalitário – acha que o governo deve interferir em tudo.
Pode encontrar regimes à direita do espectro político tão ruins quanto os que se encontram à esquerda. A vida de uma mulher sob o islamismo, por exemplo, pode ser considerada tão ruim quanto a de alguém sob o comunismo.
Embora a mulher desfrute de liberdades econômicas com as quais a outra pessoa só pode sonhar, a outra pessoa possui liberdades pessoais com que ela sonha. Ambos são vítimas, a opressão apenas tem formas diferentes.
Só se pode dizer que uma situação é melhor que outra quando ela se situa para cima no espectro político. Transitar entre direita e esquerda só significa trocar uma coisa ruim por outra.
Embora esquerda e direita sejam duas opções ruins em seus princípios, nas formas que se apresentam hoje no Brasil e no mundo ocidental não são igualmente ruins. Em primeiro lugar, a esquerda não é uniforme, pode ser dividida grosseiramente entre a “esquerda consistente” e a “esquerda pragmática”.
Chamo de “esquerda consistente” àqueles esquerdistas cuja política reflete com fidelidade os princípios do esquerdismo: que igualdade material é o ideal de justiça e que só é possível enriquecer explorando o próximo.
Ora se o ideal moral é a igualdade, assistencialismo não é suficiente. É moralmente obrigatório que o governo seja muito mais eficaz em promover a igualdade. A estatização da vida econômica é a única forma de atingir este objetivo. O Comunismo é o objetivo da esquerda consistente.
A “esquerda pragmática” são aqueles esquerdistas com um pouco mais de contato com a realidade. Perceberam que o Comunismo causa miséria e assassinato em massa sempre que é posto em prática.
Mas, embora tenha percebido que Comunismo não funciona, a “esquerda pragmática” não abandonou seus princípios. Continua fiel à idéia de que igualdade é o ideal moral, e que a prosperidade de um custa a miséria de outro.
A “esquerda pragmática” sabe que o seu ideal não funciona, mas insiste em fazer o possível para aproximar-se dele. Busca uma mistura ideal entre liberdade e escravidão que permita alguma geração de riqueza – apenas para tomá-la de quem a criou e usá-la em seu projeto igualitário.
Por fim, a direita. No Brasil e nos Estados Unidos, os direitistas (ou “conservadores”) são defensores da liberdade econômica, acompanhada de restrições à liberdade pessoal baseadas no cristianismo.
O cristianismo prega que desde a concepção o ser humano tem alma – e sua vida é sagrada. O conservador é, portanto, contra o aborto. O fato de que a oposição se baseia em um preceito religioso é obscurecido por inúmeros argumentos falaciosos.
O cristianismo prega que a relação entre homem e mulher é sacramentada por deus. O homossexualismo, o divórcio e outros desvios em relação ao que a religião define como “certo” no relacionamento pessoal e sexual entre pessoas são freqüentemente combatidos pelos conservadores – através do poder político.
O conservadorismo, no entanto, também não é uniforme. Embora exista, principalmente nos Estados Unidos, uma direita dogmática que busca ativamente impor a moral cristã através do governo, há também uma direita “light” – religiosa em alguns poucos temas específicos (o aborto é um exemplo), mas respeitosa de muitas liberdades pessoais, embora ocasionalmente a contragosto.
“Direita” não é melhor que “esquerda”, mas o que esta direita “light” oferece hoje no Brasil e nos Estados Unidos é muito melhor do que o que querem os Comunistas e Social Democratas. A política típica “de direita” hoje não está apenas à direita, mas também acima da política de esquerda no espectro político – e isso é o que importa.
Infelizmente no Brasil esta direita que, embora não ideal, representa uma melhoria inegável sobre o esquerdismo não encontra expressão à exceção de alguns poucos intelectuais e blogueiros.
Os defensores da verdadeira liberdade, nem de direita, nem de esquerda, são ainda mais raros.
Leitura recomendada: “Nem de direita, nem de esquerda”, por Leonard Read @ OrdemLivre.org (link)