20 outubro, 2006

A democracia e os dois "Brasis"

O Brasil que o governo sustenta vota Lula, o Brasil que sustenta o governo vota contra Lula. – Anônimo
A correlação é inegável. Entre pessoas que recebem mais do governo do que pagam, Lula é dominante. Entre aqueles que sustentam esta “generosidade” à custa de muito trabalho honesto ele perde.

A correlação se sustenta em todos os níveis e pode ser percebida, por exemplo, nos estados: onde o fluxo de verba federal é positivo ganha Lula; onde o que o governo federal toma em imposto excede a contrapartida ele perde. Como a votação em um estado nada mais é que o total de votos de indivíduos, nada mais natural.

É difícil aceitar o fato que uma parcela esmagadora da população brasileira está escolhendo o parasitismo. Seria uma condenação veemente dos valores morais da nossa cultura se não fosse um fato importantíssimo: não há ninguém condenando a transferência de renda como o crime que é.

Não se pode dizer que grande parte de nossa população esteja votando conscientemente no parasitismo pois no Brasil ainda impera a ilusão de que existe “dinheiro do governo”. A maioria esmagadora dos que apóiam políticas distributivistas – em todas as classes sociais – sustenta suas opiniões com o argumento de que os pobres merecem sua parte da riqueza nacional. Não existe riqueza nacional, não aparece dinheiro miraculosamente nos cofres do governo.

Toda a riqueza é produzida pelo trabalho de alguém, e quem a produziu é seu único dono legítimo. Todo o dinheiro que o governo obtém é fruto do trabalho honesto de alguém – e lhe foi tirado à força. A riqueza no país não é um bolo e o governo não é o cozinheiro. Não é o governo que “faz o bolo crescer” nem tem o governo autoridade moral alguma para dividir o que pertence aos outros.

A opção pelo parasitismo se explica pelo fato de que não existe no discurso político nacional uma única voz chamando as coisas pelo nome: que tirar de um para dar ao outro é roubo, puro e simples. Em uma eleição nacional em que todos os candidatos são socialistas, isto não surpreende.

A fraqueza de Alckmin ao combater Lula tem base exatamente neste ponto: em todos os princípios básicos eles concordam. Alckmin condena com toda a veemência o comportamento imoral e criminoso do partido de Lula, e por isso apenas tem meu voto, mas em termos de política eles compartilham todos os princípios básicos.

Nesta eleição fica nua e exposta a podridão da democracia: que a ditadura da maioria é tão imoral quanto a ditadura de uns poucos. Nós, que hoje estamos sendo democraticamente vitimados, temos que aprender esta lição. O governo representativo com certeza é o melhor sistema que já foi criado, mas os direitos individuais de cada um de nós – vida, liberdade e propriedade – não podem estar sujeitos às vontades da maioria.