16 dezembro, 2008

Capitalismo funcionando: NET

Sou assinante de serviço de internet e telefone da NET. Durante muito tempo tive linha fixa da Telefónica e internet Speedy, mas a qualidade da conexão de internet era ruim e o telefone saía caro. Quando a NET começou a oferecer telefonia fixa em minha cidade, assinei um pacote que me garante o uso de telefone que preciso e cinco vezes a velocidade de conexão que tinha no Speedy. Pela metade do preço.

Não foi nenhuma lei que obrigou a NET a oferecer muito mais por muito menos – eles fizeram isso para ganhar dinheiro. Este é um exemplo de como o Capitalismo funciona. Não espero que empresas me façam favores, mas escolho sempre a melhor oferta que me está disponível. Como todas as pessoas mesmo que inconscientemente fazem isso em maior ou menor grau, o que resulta é que quem consegue oferecer a melhor relação entre benefício e preço tem sucesso e ganha dinheiro.

Na segunda feira da semana passada meu telefone ficou mudo e minha conexão de internet sem sinal. Ao ligar (do celular!) para o suporte técnico da NET uma gravação imediatamente me informou que minha cidade estava com problemas de conexão e que os técnicos já estavam trabalhando para solucionar o problema. Não estava feliz, mas problemas acontecem.

No dia seguinte, a mesma coisa. No dia seguinte também. Conversando com colegas descobri que muita gente na cidade estava sem serviço. Aquela boa vontade inicial se esgotou. Finalmente no domingo, ao ligar para o suporte técnico, a gravação não estava mais lá. Mas eu continuava sem serviço.

O atendente me informou que precisaria enviar um técnico para investigar o problema. Perguntei se os problemas na cidade estavam resolvidos. Ele me respondeu “que problemas na cidade? Pode ter havido algum problema localizado...”. Perguntei se várias pessoas ficando uma semana sem serviço em bairros diferentes era um problema localizado. Ele me respondeu “isso não acontece, fica no máximo seis horas sem serviço”. Digamos que me despedi de forma não muito cordial.

O técnico veio no dia seguinte. Um componente da instalação no prédio estava queimado. Imagino que deve ter queimado pelo mesmo motivo que derrubou praticamente a cidade inteira...

Liguei logo em seguida para o suporte técnico e pedi que descontassem uma semana da cobrança. O atendente simplesmente pediu um tempo. Após dois ou três minutos me informou que o desconto apareceria na fatura do mês seguinte.

Há algumas observações importantes a se fazer. Primeiro, é óbvio que não fiquei nada feliz em estar uma semana isolado do mundo exterior (sem internet, só com telefone celular). Mas uma pequena pausa para reflexão indica que esse isolamento era a normalidade dez anos atrás! A velocidade com que nos acostumamos e passamos a considerar essenciais os benefícios do contínuo desenvolvimento técnico e econômico do Capitalismo é impressionante.

Segundo, o que mais me deixou nervoso ao longo do incidente todo foi o fato de um atendente negar taxativamente o que eu havia acabado de afirmar que tinha acontecido. O fato é que o relacionamento com cliente é uma das peças chave para manter um cliente. Sempre fui mal atendido pela Telefónica quando precisei de suporte. Em um mercado livre, a empresa ganha dinheiro tratando bem o cliente.

Por outro lado, o técnico veio no primeiro dia útil disponível, era muito bem preparado e resolveu o problema. Quando liguei para pedir que me descontassem o período que fiquei sem serviço, o atendente não me questionou em nenhum momento. Imagino que tenha verificado que de fato não acessei o sistema no período, ou ligado para o técnico para confirmar que o problema não era na minha casa. Nada mais justo.

Esta história toda é outro exemplo de Capitalismo funcionando. Não é por bondade que a NET mantém um corpo técnico qualificado e disponível no dia seguinte. Não é por bondade que me descontaram o período que pedi sem me perguntar nada. Por um lado é o fato de que me manter como cliente é essencial para que eles ganhem dinheiro no longo prazo, por outro o fato de que se me cobrassem por um serviço que eu não recebi poderiam ser processados.

Isso nos leva ao papel do governo nessa história toda. No momento de raiva a tendência do brasileiro é exigir uma lei que proíba a falha do serviço de telefone ou internet por mais de um dia. Uma lei que proíba gravação no suporte técnico. Uma lei que obrigue a empresa a consertar o problema rápido e de graça.

A verdade é que todas estas leis são desnecessárias e violam direitos. A única lei necessária é: que se cumpram os contratos e que sejam ressarcidos os pagamentos quando não são cumpridos.

Um último detalhe. A restituição a que tenho direito se deve apenas ao que paguei e não recebi.
Uma excrescência do direito brasileiro (e de outros países) é a idéia de lucros cessantes. O que é isto? Se eu uso o telefone de casa para trabalhar e ganho uma média de 100 reais por dia, eu processaria a NET exigindo que ela me pagasse 700 reais – o lucro que eu poderia ter se tivesse o telefone funcionando durante a semana que ele ficou mudo.

Isto é um absurdo. A NET não tem responsabilidade nenhuma pelo uso que faço do telefone. Ela me vende um serviço, me dá certas garantias de qualidade e estipula um preço – tudo isto no contrato. Se ela não cumpre seu lado, eu não pago. Se já paguei, ela me devolve. Esgota-se aí a responsabilidade da NET.

A empresa que presta o serviço não tem responsabilidade se eu decido usar o serviço dela para algum fim muito importante. Aliás, certamente ela vende serviços de comunicação com maiores garantias de confiabilidade para quem tem esta necessidade.

No Capitalismo a decisão de um (usar o telefone para trabalhar) não cria obrigações para outro (o prestador de serviço telefônico). As únicas obrigações no Capitalismo são as voluntariamente assumidas em contrato.

15 dezembro, 2008

Uma semana sem internet

Meu provedor (NET) me deixou uma semana isolado do Universo. Breve novos posts.

02 dezembro, 2008

A outra indústria automotiva

Em Por que as automotivas? listei alguns dos motivos pelos quais a indústria de automóveis americana foi uma das primeiras a refletir a crise financeira na chamada economia real. Um artigo do Wall Street Journal mostra o interessante outro lado da moeda: o das indústrias automotivas americanas que não estão falidas (o que não quer dizer que sairão ilesas da crise).

Empresas japonesas, coreanas e alemãs têm operações industriais muito significativas nos Estados Unidos. Dados do artigo no WSJ indicam que estas empresas empregam cerca de 113.000 americanos, frente a 239.000 empregados pela GM, Ford e Chrysler, e produzem 54% dos carros vendidos nos Estados Unidos.

Duas coisas saltam aos olhos. Primeiro, que uma grande fatia da indústria automobilística americana não está falida. O fato de que são marcas estrangeiras ou empresas com sede corporativa fora dos EUA é irrelevante. Trata-se de carros fabricados, e em alguns casos desenvolvidos, por americanos nos Estados Unidos.

A segunda coisa é que com menos da metade dos empregados, as indústrias de origem estrangeira instaladas nos EUA produzem mais da metade dos carros vendidos no país. Além de gastarem muito menos por empregado com benefícios, como citei no artigo anterior, estas empresas produzem mais carros com menos gente.

Se em um mesmo país metade da indústria está falida e a outra não, isto não pode ser conseqüência da crise financeira que é igual para todos. O que explica haver uma indústria automotiva americana falida e outra eficiente e competitiva? Interferência do governo na economia.

Os Estados Unidos, ao contrário do Brasil, são uma federação de fato. Os estados lá não são meras unidades administrativas – as leis estaduais diferem em coisas muito significativas. Uma delas é a lei trabalhista.

Em Michigan, onde são sediadas as grandes montadoras americanas, a lei trabalhista é tal que se um sindicato é estabelecido em uma empresa qualquer um que queira trabalhar lá é obrigado a se filiar ao sindicato. Nos estados onde a maioria das montadoras estrangeiras se estabeleceu, por outro lado, predominam as leis right to work, que reconhecem que o cidadão tem o direito de trabalhar em uma empresa se estiver disposto a aceitar as condições contratuais oferecidas a ele – existindo ou não um sindicato.

A diferença é crucial. No primeiro caso, o direito de contrato do indivíduo e da empresa são violados – o indivíduo é obrigado a seguir as diretrizes do sindicato, a empresa é proibida de contratar nos termos que ela quiser sem a aprovação do sindicato. No segundo caso estes direitos são reconhecidos.

A conseqüência é que nos estados sem right to work os sindicatos têm o poder, concedido pelo governo, de impedir que a empresa contrate pessoas dispostas a serem contratadas se os termos deste contrato não forem do agrado do sindicato. Nos estados que garantem os direitos individuais de trabalhadores e empresários os sindicatos não têm este poder.

O resultado destes dois cenários é que no primeiro caso o capital e a lucratividade da empresa são pouco a pouco drenados em favor dos empregados, que recebem salários e benefícios cada vez mais espetaculares extraídos sob ameaça de uma greve inquebrável.

No segundo caso os sindicatos conseguem, através da ameaça de greve, apenas garantir que a empresa não pague salários abaixo do mercado, nunca que pague acima deste. Caso exijam salários ou benefícios acima do mercado, a empresa vai ao mercado de trabalho e contrata outras pessoas.

No longo prazo as empresas fogem dos estados (ou dos países) que tiram delas o direito de dispor de sua propriedade livremente e as que ficam tornam se brontossauros absolutamente incapazes de competir – e vão pedir proteção ou dinheiro ao mesmo governo que inviabilizou sua sobrevivência.

Uma coisa que deveria enfurecer todo brasileiro assalariado: mesmo o modelo trabalhista americano que causou a falência da indústria automotiva de Detroit é muito mais respeitador dos direitos individuais do que a legislação brasileira. Aqui se é sindicalizado por lei, mesmo que não se queira, em qualquer indústria que se trabalhe.

Nossa indústria automotiva só não está falida por ser protegida da concorrência externa por pesadas barreiras de importação. E é por isso (além dos impostos) que o brasileiro paga mais do dobro do preço que o americano por um carro de pior qualidade.

A legislação trabalhista é a maior barreira ao desenvolvimento e à prosperidade do Brasil depois dos impostos.